
Em uma das fugas, vidros foram quebrados com pedras, crianças foram vistas no telhado do local e servidores foram agredidos. Prefeitura informou que todas as crianças já voltaram à unidade. Crianças quebram janelas e sobem em telhado de abrigo
Em menos de três dias, quatro fugas de crianças foram registradas no Abrigo Municipal Infantil de Maringá, no norte do Paraná. Em uma delas, foi registrada uma confusão, onde vidros foram quebrados com pedras, crianças foram vistas no telhado do local e servidores foram agredidos.
As duas primeiras fugas aconteceram no último domingo (25) e foram atendidas pela Polícia Militar (PM-PR) e pelo Conselho Tutelar. A terceira foi registrada na noite de segunda-feira (26) e a quarta na tarde desta terça-feira (27).
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O g1 e a RPC optaram por não divulgar imagens do abrigo e nem das crianças, para preservar a identidade e integridade dos menores e servidores.
Nesta terça-feira, a delegada Karen Nascimento, do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), esteve no local e realizou uma escuta especializada com as crianças. A diretora do abrigo também foi ouvida.
Segundo a delegada, existem 26 crianças no abrigo e quatro servidores atuam no atendimento dos menores. Karen ainda apontou que há um déficit de funcionários e o local não possui estrutura adequada para atender as crianças. Veja mais abaixo.
Em nota, a prefeitura de Maringá informou que todas as crianças já retornaram à unidade.
Em entrevista à RPC, o secretário de Assistência Social, Leandro Bravim, disse que esteve com a equipe de infraestrutura no abrigo e que nesta quarta-feira (28) será iniciada uma reforma na parte interna para inibir novas fugas pelo telhado.
Bravim também contou que, entre o dormitório e o refeitório do local, há um espaço por onde menores podem ter escapado, que também será fechado. Ele ainda esclareceu que as janelas do local não eram fechadas, com a intenção de promover um ambiente acolhedor.
O secretário disse também que será feito o remanejamento de servidores da secretaria de Assistência Social e da Secretaria da Educação para atender as crianças. Ao todo, serão colocados mais quatro servidores em cada turno.
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Como as fugas ocorreram
Polícia Militar do Paraná auxiliou na busca pelas crianças.
Polícia Militar
No primeiro registro de fuga, a Prefeitura de Maringá informou que seis crianças, com idades entre 7 e 9 anos, saíram do abrigo. Elas foram encontradas entre a noite de domingo e a madrugada desta segunda-feira (26). Em entrevista à RPC, o secretário municipal de Assistência Social, Leandro Bravim, explicou que a fuga foi notificada assim que os funcionários perceberam que as crianças não estavam no local.
Contudo, as informações divergem das repassadas pela Polícia Militar, que auxiliou na busca pelos menores. A PM informou que a corporação foi acionada duas vezes durante a noite de domingo para auxiliar no atendimento das ocorrências.
Na primeira vez, foi relatado no boletim de ocorrência que seis crianças fugiram antes do horário de almoço e foram encontradas por volta das 21h na Avenida Brasil e estavam sem calçados. Em seguida, o Conselho Tutelar foi acionado e encaminhou as crianças de volta ao abrigo.
Segundo a polícia, no segundo acionamento, por volta das 23h45, cinco crianças escaparam do abrigo, sendo que três delas já tinham participado da primeira fuga. Elas foram encontradas nas proximidades da Avenida Mandacaru. Conforme a PM, os menores tinham sido acolhidos por um morador da região e depois foram levados de volta ao abrigo pelo próprio prefeito Silvio Barros (PP). Procurada pelo g1, a prefeitura não confirmou as informações sobre a segunda fuga.
Na noite de segunda-feira, outras quatro crianças fugiram mais uma vez, sendo levadas de volta para o abrigo em seguida. Neste registro, a Polícia Militar disse que não foi acionada.
Na tarde desta terça-feira, foi registrada a saída de outros menores do abrigo. Conforme apurado pela RPC, a Guarda Municipal atendeu o caso e um dos agentes, que conhecia uma das crianças, conseguiu convencê-las a voltar para o abrigo. Neste registro, cerca de sete menores foram encontrados nos arredores do abrigo.
Crianças fogem de abrigo municipal
Delegada do Nucria ouviu crianças do abrigo
A Polícia Civil (PC-PR), por meio do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (Nucria), também vai investigar o caso. Nesta terça-feira, a delegada Karen Nascimento esteve no local, acompanhada de um investigador e duas psicólogas, e realizou uma escuta especializada com as crianças. A diretora do abrigo também foi ouvida.
“Nós verificamos que, segundo o relato da diretora, há um déficit de servidores. Então falta efetivo para conseguir acompanhar e atender essas crianças. A estrutura também não é adequada a uma casa de acolhimento e não está preparada para atender essas situações. As crianças que estão no local já estão ali por uma situação de violência, negligência e abandono”, contou a delegada.
O relatório das escutas deve ser entregue ao Nucria ainda nesta semana.
O que diz o Conselho Tutelar
O Conselho Tutelar de Maringá enviou uma nota ao g1, e disse que o caso não é um fato isolado e que se trata de “um reflexo do colapso do sistema de acolhimento institucional na cidade”. O órgão também informou que a situação já havia sido denunciada há anos e providências estruturais efetivas não foram adotadas pelo poder público municipal.
“Ressaltamos que a situação estrutural e operacional dos serviços de acolhimento institucional no município é critica e insustentável há bastante tempo, sendo alvo de constantes manifestações, orientações e encaminhamentos por parte do Conselho Tutelar”, informou a nota.
O Conselho ainda informou que a situação foi documentada e formalmente comunicada por meio de canais oficiais do município, por ofícios, relatórios, reuniões e visitas técnicas. Também informou que existe uma Ação Civil Pública que resultou no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a Prefeitura de Maringá e o Ministério Público do Paraná (MP-PR).
O termo estabeleceu obrigações específicas relacionadas à estrutura e funcionamento dos serviços de acolhimento institucional, e prevê sanções e multas em caso de descumprimento.
“Estamos diante de agressões institucionalizadas. Os Conselhos Tutelares esclarecem ainda que atuações emergenciais têm sido frequentes, a fim de garantir a proteção integral das crianças e adolescentes. Mas as medidas pontuais não são suficientes diante da precariedade da rede de atendimento”, informou o Conselho.
Em nota, a prefeitura de Maringá disse que o abrigo infantil é alvo de uma Ação Civil Pública desde maio de 2023, motivada por situações que se desenvolveram durante a gestão anterior. Disse ainda que a atual administração tem tratado o tema como prioridade e já vem adotando uma série de medidas emergenciais, com o objetivo de garantir o bem-estar das crianças.
Veja quais são as medidas apontadas pelo município:
Reforço da equipe técnica do abrigo, por meio do remanejamento de servidores de outras secretarias;
Reforço na segurança externa da unidade com o apoio da Guarda Civil Municipal;
Busca ativa por um novo imóvel para o abrigo, viabilizando um cuidado mais individualizado por parte das equipes técnicas;
Escuta qualificada das crianças e dos servidores, com o objetivo de apurar eventuais denúncias;
Fortalecimento do serviço ‘Família Acolhedora’, com o credenciamento de novas famílias para oferecer um ambiente seguro e afetivo para as crianças, enquanto aguardam as determinações judiciais.
A Prefeitura de Maringá também encaminhou uma nota explicando como o abrigo funciona.
“O abrigo municipal oferece atendimento para crianças que estejam sob medida de proteção de acolhimento provisório, quando esgotadas todas as possibilidades de proteção e cuidado de familiares e rede de apoio. O objetivo é promover a reinserção familiar e comunitária. As crianças ficam sob os cuidados no abrigo ou em Famílias Acolhedoras devidamente capacitadas e acompanhadas pela equipe técnica do serviço”, informou a nota.
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