
Presidente americano vê suas chances de encerrar guerras na Ucrânia e em Gaza reduzirem por falta de interesse de aliados como o presidente russo e o premiê israelense. Uma juíza de Boston barrou uma decisão de Trump que, na prática, impedia alunos estrangeiros de estudares na Universidade Harvard, a mais antiga dos EUA
Nathan Howard/Reuters
Para quem prometeu acabar com duas guerras complexas em apenas um dia, Donald Trump parece, finalmente, ter caído na real — a de que os interlocutores e parceiros Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu não são confiáveis e querem prorrogar, até onde puderem, os confrontos na Ucrânia e em Gaza. A frustração de Trump se revela no mínimo tardia e mina os planos do presidente americano de ser consagrado como um pacificador.
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Ele anunciou, semana passada, ter saído de uma excelente e longa conversa com Putin, que, nas suas palavras, seriam ponto de partida para negociações imediatas entre os dois lados. Mas, em vez disso, os bombardeios russos se intensificaram com 1.400 drones em uma semana e avanços territoriais na região de Donetsk. Trump então concluiu que Putin está “completamente louco”.
“Não estou feliz com o que Putin está fazendo. Ele está matando muita gente. Não sei o que aconteceu com ele”, afirmou. O Kremlin atribuiu o desabafo de Trump a uma sobrecarga emocional.
O presidente americano pareceu seguir a estratégia do antecessor Joe Biden, ao cogitar aplicar novas sanções contra a Rússia. Nesta terça-feira, em uma nova publicação na sua rede social, Trump se mostrou enfurecido com o presidente russo.
“O que Vladimir Putin não percebe é que, se não fosse por mim, muitas coisas realmente ruins já teriam acontecido com a Rússia, e quero dizer MUITO ruins. Ele está brincando com fogo.” Desta vez, o Kremlin encarou as declarações de Trump como um risco para a Terceira Guerra Mundial.
Os aliados europeus desprezados pelos EUA assistem de camarote à escalada de tensões, apreensivos de que num desses ataques de fúria, o presidente americano simplesmente lave as mãos e abandone as negociações para uma solução que dê fim à guerra na Ucrânia.
Para o presidente da França, Emmanuel Macron, Trump já entendeu que Putin mentiu quando disse que estava pronto para a paz. E o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, demonstrou alívio ao constatar finalmente que Putin consegue causar mais irritação em Trump do que ele.
“Posso dizer coisas desagradáveis, mas digo a verdade. E digo o que penso. E ele (Putin) pode às vezes dizer coisas muito boas, mas são mentiras”, ponderou Zelensky, que em fevereiro foi enxotado da Casa Branca enquanto o presidente americano ainda achava que seria capaz de persuadir o líder russo.
Trump parece também estar tomando distância do confronto em Gaza. Expressa frustração com a insistência de Netanyahu em prorrogar o cerco humanitário ao enclave e manter as negociações entre Israel e o Hamas no vácuo. “Temos conversado com eles e queremos ver se conseguimos interromper toda essa situação em Gaza o mais rápido possível”, afirmou, sem convicção, na segunda-feira.
Ao mesmo tempo, ele se diz otimista em relação às negociações com o Irã, que visam a conter o programa nuclear do regime teocrático. As conversas de seus enviados com o Irã e com o Hamas, dois inimigos de Israel, irritaram Netanyahu e sua coalizão de radicais de direita.
Assim como Putin, Netanyahu não dá sinais de que vá ceder à pressão de Trump que leve a um cessar-fogo em Gaza e à libertação de reféns israelenses. Ao contrário, o Exército ordenou a evacuação forçada do sul do enclave, para executar o que planeja ser um ataque sem precedentes.
Como avaliou o colunista Simon Tisdall, do jornal britânico “The Guardian”, nenhum dos dois líderes tem interesse em uma paz duradoura: a guerra eterna é sua opção preferida, pois ambos dependem da violência para sobreviver politicamente. Trump se dá conta de que com aliados da estirpe de Putin e Netanyahu, a paz não é algo a ser imposto.