‘A vida do meu filho não volta, mas preciso saber quem autorizou’, diz pai de rapaz morto durante ação policial em festa junina


Além do office-boy Herus Guimarães, filho de Fernando Guimarães, cinco pessoas foram baleadas no tiroteio, entre elas ao menos um adolescente. Fernando Guimarães, pai do no office boy, Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, que foi morto durante um tiroteio do Bope no Morro do Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, no final da madrugada deste sábado (7), desabafou sobre a morte do filho durante a manhã em entrevista ao g1.
“A gente só quer que alguém nos procure e diga quem autorizou aquilo. Secretário de Segurança, chefe do Bope, que alguém nos procure e explique. Quem autorizou? A vida do meu filho não volta”
No momento do confronto, havia uma quadrilha de festa junina feita por moradores da comunidade. Dezenas de crianças participavam na festa. Além de Herus, cinco pessoas foram baleadas no tiroteio, entre elas ao menos um adolescente.
O g1 procurou o o secretário da PM, o coronel Marcelo de Menezes Nogueira, para comentar o caso. No entanto, ele não respondeu aos questionamentos da reportagem.
Fernando Guimarães segura a roupa do filho, que estava com marcas de sangue
Anne Poly
Até às 11h, a Polícia Militar não havia respondidos aos questionamentos do g1 e da TV Globo.
Segundo a família, Herus foi baleado na barriga. Socorrido para o Hospital Glória D’or, na Glória, ele passou por uma cirurgia, mas não resistiu aos ferimentos. Abalado, o pai do rapaz desabafou:
“Estava tendo uma festa junina, tudo mundo feliz, tranquila, cheia de crianças, bebês de colo e do nada, a polícia chegou, teve uma troca de tiros e agora, infelizmente, estou aqui com o meu filho morto. A gente precisa saber das autoridades por que eles foram numa localidade dessa perto das 4h da manhã? Um lugar cheio, muita gente. Quem foi que autorizou? A vida do meu filho não volta, mas a gente precisa saber. Eu não acredito que os policiais não serão penalizados”.
Chorando, Fernando, que é auxiliar de escritório, falou sobre o filho e contou que a festividade só aconteceria entre a noite de sexta-feira (6) e a madrugada de sábado (7).
Herus Guimarães Mendes deixa um filho de apenas 2 anos
Arquivo de família
“Meu filho tinha 24 anos, trabalhador, a gente estava num único dia de festa junina curtindo e teve essa fatalidade. Eles falaram que um tiro pegou no baço, o médico tirou a bala, ressuscitaram ele, e logo em seguida se foi. Estamos arrasados. A gente só precisa de uma resposta. Que alguém nos procure e nos responda porque estavam ali, numa festa junina, não tinha nada demais para que gerasse aquilo. A vida do meu filho não volta”, desabafou.
Herus deixa um filho de apenas 2 anos de idade.
Quadrilhas vindas de várias partes do RJ
Segundo testemunhas, não é a primeira vez que moradores do Morro Santo Amaro fazem quadrilha no local. De acordo com Cristiano Pereira, presidente da quadrilha Balão Dourado, que é de São Gonçalo, na Região Metropolitana do RJ, era a terceira vez que ele e mais 60 pessoas iam para a festividade. Um adolescente da turma de Pereira foi baleado.
Ele afirmou que “houve um erro gravíssimo da Polícia Militar”.
Cristiano Pereira, presidente da quadrilha Balão Dourado, que é de São Gonçalo, no Hospital Souza Aguiar
Anne Polly
“Eram 5 quadrilhas, todas reunidas [para a apresentação], e até onde eu sei, a comunidade é pacificada. Somos de São Gonçalo, e estávamos em um grupo de 60 pessoas. Estávamos lá dançando e toda hora passava um carro de polícia. Muitas crianças e, inclusive, a minha filha de 11 anos. Aí, do nada, o som tocando, a quadrilha dançando, eles [os policiai] surgiram de todos os becos. Um monte de gente atirando e o saldo é esse: gente baleada e morta”, desabafou o homem, que completou:
“Temos todo o respeito pela Polícia Militar. Mas, ele falarem que existe uma festa na casa do governador cheio de bandidos, eles vão entrar lá assim? Não entra. Eu vi 5 pessoas baleadas. Estou aqui no hospital porque um adolescente de 16 anos no meu grupo foi baleado. É uma situação muito chata”.
Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o momento em que moradores tentam se abrigar. É possível ver pessoas se abaixando, crianças correndo e gritos de desespero.
De acordo com moradores, a festa foi organizada por pessoas da comunidade, e reunia crianças, famílias e visitantes de outras regiões. Após a ação, vídeos também mostraram ruas vazias e o clima de tensão na comunidade.
Ao g1, uma fonte da Secretaria de Segurança Publica informou que agentes estavam na comunidade “em uma operação para retiradas de portões que eram usados como barricadas”, disse.
Procurada, a Coordenação do do Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do Ministério Público do RJ informou a ação da PM do Rio foi comunicada previamente. O MPRJ ainda não informou a justificativa da PM para uma ação na madrugada.
Um promotor do Gaesp destacou ainda que qualquer cidadão pode denunciar eventuais abusos policiais através do número 127 ou pelo e-mail: [email protected].
Santo Amaro tem tiroteio em ação policial durante festa junina
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