
Estudo liderado pela Universidade do Mississippi sugere que um composto de açúcar encontrado em pepinos-do-mar pode bloquear a enzima Sulf-2, que tem papel no crescimento da doença. Pepino-do-mar, um invertebrado marinho, produz compostos com estruturas que não são comuns em vertebrados terrestres.
Andrea Ruggeri/iNaturalist
Um estudo liderado pela Universidade do Mississippi sugere que um composto de açúcar encontrado em pepinos-do-mar pode bloquear a enzima Sulf-2, que tem papel na evolução do câncer. A pesquisa, publicada na revista científica “Glycobiology”, aponta que essa descoberta pode ajudar a deter a proliferação da doença.
🥒 O pepino-do-mar, um invertebrado marinho, produz compostos com estruturas que não são comuns em vertebrados terrestres.
“Os compostos de açúcar em pepinos-do-mar são únicos. Eles não são vistos em outros organismos. Por isso, são valiosos para estudo”, afirma Marwa Farrag, doutoranda da Universidade do Mississippi e principal autora do estudo.
O papel da enzima Sulf-2
🧫 Células humanas têm estruturas chamadas glicanos em suas superfícies, que auxiliam na comunicação celular, respostas imunes e no reconhecimento de ameaças. Células cancerosas alteram a expressão de certas enzimas, incluindo a Sulf-2. Essa modificação, por sua vez, facilita a proliferação do câncer.
“As células do nosso corpo são cobertas por ‘florestas’ de glicanos”, diz Vitor Pomin, professor associado de farmacognosia. “Enzimas alteram a função dessa floresta. Se pudermos inibir essa enzima, em tese, combatemos a proliferação do câncer.”
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Composto sem efeitos colaterais
🗂️ METODOLOGIA: Usando modelagem computacional e testes em laboratório, a equipe de pesquisa descobriu que o açúcar – sulfato de condroitina fucosilado – do pepino-do-mar Holothuria floridana pode inibir a Sulf-2. Robert Doerksen, professor de química medicinal, diz que a consistência entre os resultados experimentais e a simulação computacional aumenta a confiança nas descobertas.
Uma característica do composto do pepino-do-mar é que ele não interfere na coagulação sanguínea, ao contrário de outros medicamentos que regulam a Sulf-2.
“Se você está tratando um paciente com uma molécula que inibe a coagulação do sangue, um dos efeitos pode ser sangramento não controlado”, explica Joshua Sharp, professor associado de farmacologia. “É promissor que esta molécula específica com que estamos trabalhando não tenha esse efeito.”
Além disso, a extração do composto de pepinos-do-mar não apresenta risco de transferência de vírus e outros agentes, diferentemente da extração de outros medicamentos à base de carboidratos de animais terrestres. Pomin classifica o pepino-do-mar como um recurso “mais benéfico e limpo”.
PRÓXIMOS PASSOS: O pepino-do-mar não é abundante o suficiente para uma produção em massa de medicamentos. Por isso, o próximo passo da pesquisa é encontrar uma forma de sintetizar o composto de açúcar em laboratório para futuros testes.
“Um dos desafios no desenvolvimento como medicamento seria a baixa produção, pois não se consegue toneladas de pepinos-do-mar”, afirma Pomin. “Então, precisamos de uma rota química, e quando a desenvolvermos, podemos começar a aplicar isso em modelos animais.”
O estudo teve a colaboração de pesquisadores de química, farmacognosia e biologia computacional da Universidade do Mississippi e da Universidade de Georgetown. Pomin destaca que a natureza interdisciplinar da pesquisa, envolvendo múltiplas áreas de conhecimento, é fundamental para abordar doenças complexas como o câncer.
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