Obras no prédio da Sesp começaram com servidores dentro em janeiro. Funcionam no espaço a Delegacia Geral de Homicídios, o Núcleo de Investigação de Pessoas Desaparecidas, a Delegacia de Repressão de Roubos e Furtos de Veículos Automotores Terrestres e a Corregedoria. Andaimes ocupam escada que dá acesso ao último andar do prédio da Sesp, onde funcionam três delegacias da Polícia Civil
Arquivo pessoal
Avisos de “em obras”, tapumes e andaimes, uma longa escada suja de pó e muito barulho. Estes são alguns obstáculos que vítimas, testemunhas e servidores precisam enfrentar para acessar três delegacias e a Corregedoria da Polícia Civil, que funcionam no prédio da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), em reforma desde janeiro.
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A construção tem dificultado o acesso da população e dos funcionários ao último andar do prédio, onde estão Delegacia Geral de Homicídios (DGH), o Núcleo de Investigação de Pessoas Desaparecidas (NIPD), a Delegacia de Repressão de Roubos e Furtos de Veículos Automotores Terrestres (DRRFVAT), além da Corregedoria Geral da Polícia Civil.
Corredor onde ficam três delegacias e a Corregedoria da Polícia Civil, no último andar do prédio da Sesp, que está em reforma
g1 RR
Há oito meses, em julho de 2023, a Sesp pediu à Polícia Civil que realocasse as delegacias porque a obra de reforma seria iniciada no prédio, mas nas unidades seguem no local.
Ao g1, o delegado titular da DGH, Lurene Avelino, de 54 anos, afirma que ele e outros servidores pediram providências ao comando da Polícia Civil sobre a necessidade de realocação, mas segue sem previsão de mudança. Ele contou que até sugeriu possíveis locais, mas teve todos os pedidos negados.
Delegado da Polícia Civil Lurene Avelino, titular da Delegacia Geral de Homicídios
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“A gente continua aqui dentro, submetidos a todos os problemas e riscos de vida. O prédio tá sem segurança, com insalubridade e periculosidade, não só para os servidores, como também para a população, que agora tá sem acesso ao prédio”, afirmou o delegado.
Ele conta que o impasse tem atrapalhado o resultado de algumas investigações, principalmente de processos antigos, que têm ficado cada vez mais antigos e sem solução.
“A Justiça e o Ministério Público foram informados sobre a situação, para que no futuro não questionem a produtividade e o cumprimento do nosso dever. Foram informados, mas ainda assim, não temos para onde ir hoje”, lamentou.
No último andar, onde funcionam as três delegacias, os processos em aberto se acumulam em caixas
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Em nota, Sesp informou que a publicou aviso de procura de imóvel e aguarda a apresentação das propostas para formalização do processo de locação, conforme o edital (veja mais, abaixo).
A DGH tem, atualmente, ao menos 1.078 inquéritos abertos. Segundo Lurene, no total, juntas as unidades que funcionam no prédio da Sesp somam mais de 30 mil investigações em andamento.
🚧 Prédio desmontado
O g1 esteve no prédio e verificou que o espaço está sendo desmontado. Por se tratar de uma reforma completa, estruturas como forros, paredes, pisos, instalações hidráulicas, elétricas, sanitárias e até a fachada do local serão remodeladas.
Prédio da Sesp-RR, localizado na Avenida Ville Roy, em Boa Vista
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Com o início das obras, no térreo e no primeiro andar, onde funcionava a Sesp, hoje tem apenas a recepção das unidades da Polícia Civil. Devido às demolições na estrutura, a escada principal – único meio de acesso ao último andar – foi tomada pela poeira e por andaimes, e armações de metal utilizadas em construções.
Em reforma, térreo do prédio conta apenas com uma recepção e acesso à escada, único meio de chegar ao último andar
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Queixas de servidores
Ao g1, os servidores que trabalham diariamente no prédio disseram que o local treme e o barulho das paredes sendo derrubadas perturba. Outras reclamações incluem a instabilidade na rede de energia devido ao desmanche da parte elétrica, que causa oscilação nos computadores.
Obras no segundo andar do prédio, logo abaixo de onde funcionam as unidades da Polícia Civil
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Alergia devido à poeira no ambiente de trabalho e dificuldades em transitar com vítimas, testemunhas e suspeitos que precisam ser ouvidos, às vezes até em uma mesma sala devido à falta de espaço, são outras queixas.
O acesso pela escada já era motivo de reclamação antes mesmo do início da reforma no prédio. Por não ter um elevador ou outra opção de acessibilidade, o trânsito da população, que já era dificultoso, piorou.
Único meio de acessar o último andar, onde ficam as delegacias, a escada também possui falhas na estrutura
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Há relatos de servidores que já escorregaram na escada principal do prédio devido à poeira, segundo o delegado. Outro caso foi o de uma servidora que, no dia em que o g1 esteve no prédio, pediu para cumprir o expediente em casa, devido ao barulho causado pelas demolições.
A servidora, que não quis ser identificada, relatou que “os barulhos ficam mais altos a cada dia” e que na última sexta-feira (15), a sala dela começou a tremer, por isso ela pediu para ir para casa.
Funcionários realizam modificações na estrutura do prédio logo abaixo do andar onde ficam as delegacias
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Outros servidores, que pediram anonimato por medo de perseguição, relataram que precisaram subir a escada principal do prédio segurando uma vítima que se recuperava de uma tentativa de homicídio com ferimentos em uma das pernas, mas que precisava ser ouvida na DGH.
Ainda segundo o delegado Lurene, anteriormente, pessoas incapacitadas de subir a escada principal do prédio eram ouvidas em uma sala no térreo, porém, o local foi demolido como parte da reforma e hoje em dia isso não é mais possível.
Encanamento exposto após demolições no térreo do prédio da Sesp
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Um outro problema em relação à falta da estrutura da DGH é a de que vítimas e testemunhas, quando ocorre depoimentos, são ouvidos na mesma sala – situação que os servidores esperam que seja revista quando a unidade mudar de endereço.
Estacionamento fechado
Outro problema relatado foi o fechamento do estacionamento onde ficavam as viaturas da Polícia Civil, que também virou canteiro de obras. As viaturas, que são usadas até mesmo para conduzir suspeitos, precisam ficar estacionadas em frente ao prédio.
Estacionamento da unidade, onde ficavam as viaturas da Polícia Civil, está fechada e virou canteiro de obras
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Os agentes reclamam que, por estar localizado em uma das avenidas mais movimentadas da cidade, na Avenida Ville Roy – próximo a um cartório e ao Ministério Público Estadual (MP-RR) – as vagas nos arredores do prédio são muito disputadas.
Uma especificidade das viaturas da Polícia Civil é que, por estarem envolvidas em investigações, muitas precisam ser descaracterizadas. Se forem utilizadas em muitas operações, acabam sendo reconhecidas pelos investigados e consideradas “queimadas” pela polícia. Com os carros estacionados do lado de fora da unidade, esse processo ocorre mais rapidamente.
Marcas de demolições na estrutura do primeiro andar do prédio, logo abaixo de onde ficam as unidades da Polícia Civil
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O valor das obras no prédio da Sesp devem custar, inicialmente, R$ 4.110, 717, 68. A previsão inicial para a conclusão da obra é de 180 dias – deve ser concluída em junho de 2024.
Providências
Foi apenas na última quarta-feira (13), através de uma postagem nas redes sociais, que a Polícia Civil anunciou a abertura de um chamamento público de procura de um imóvel para locação para abrigar as instalações das delegacias.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que aguarda a apresentação de propostas para formalizar o processo de locação de um novo local conforme este edital.
Publicação nas redes sociais da Polícia Civil de Roraima anuncia procura de local para receber delegacias
Reprodução/Polícia Civil/Instagram
Além disso, disse que até a mudança para um novo imóvel, haverá realocação do efetivo e a transferência da Central de Flagrantes, que opera no 5º Distrito Policial, para o 1º DP.
A corporação reforçou ainda o compromisso em garantir a segurança e o bem-estar dos servidores e da população, e reiterou que seguirá tomando as medidas necessárias para atender as demandas e resolver as questões identificadas.
A atual delegada geral da Polícia Civil é Darlinda Moura Viana, nomeada em 16 de fevereiro deste ano conforme decreto publicado no Diário Oficial. Darlinda já havia assumido o cargo como interina após o delegado geral anterior, Eduardo Wayner, deixar o cargo em janeiro.
Armários e estantes funcionam como divisórias nas delegacias
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Quadro defasado e falta de condições
A Polícia Civil ainda não recebeu os 175 agentes aprovados no último concurso estadual da instituição, anunciado em abril de 2022 – após 20 anos desde o anterior, que ocorreu em 2003.
Aplicadas há quase dois anos, as provas eram para os cargos de médico-legista, odontolegista, perito criminal, perito papiloscopista, auxiliar de necrópsia e escrivão.
Sala da Delegacia Geral de Homicídios, onde são ouvidas vítimas, testemunhas e suspeitos
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Há duas décadas sem ser renovado, o quadro atual de servidores é considerado defasado pelo delegado Avelino, e somado ao sucateamento da estrutura física das instalações das delegacias, o desempenho da função da Polícia Civil foi prejudicado.
Prestes a receber novos agentes, os atuais servidores das delegacias instaladas no prédio da Sesp não sabem como receberão o efetivo. Para eles, os concursados não terão condições adequadas para trabalhar no que chamam de “canteiro de obras”.
Estacionamento onde eram estacionadas as viaturas da Polícia Civil está fechado devido às obras
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O último concurso da Polícia Civil foi adiado duas vezes, em agosto de 2022 devido ao extravio das provas e em setembro do mesmo ano, por coincidir com as mesmas datas do concurso do Ministério Público Estadual (MP-RR) à época.
Houve ainda um pedido de suspensão feito pelo MP-RR devido a irregularidades em questões, que gerou até anulação das provas de médico legista.
*Estagiário sob supervisão e edição de Valéria Oliveira
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