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Clarinha passou 24 anos internada sem identificação em hospitais de Vitória. Desses anos, 23 foram no Hospital da Polícia Militar, onde foi ela “batizada” logo no primeiro dia em que chegou à unidade. Morre ‘Clarinha’, paciente internada em coma há 24 anos em hospital do ES
Após a morte de Clarinha devido a complicações de uma broncoaspiração na noite de quinta-feira (14), em Vitória, possibilidades sobre a possível identidade da paciente estão sendo analisadas e cinco famílias vão fazer exames de DNA para checagem de parentesco.
Com todo o mistério envolvendo o caso e a total falta de informações sobre a paciente, ela foi 23 anos chamada pelo apelido de Clarinha, criado pela equipe médica que a atendia, que desejava garantir a identificação dela e a criação de um laço afetuoso entre os profissionais e a paciente.
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A história de Clarinha ganhou repercussão após uma reportagem sobre o caso ser exibida no Fantástico, em 2016.
A mulher foi atropelada em um Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. De lá, ela foi levada sem documentos para receber atendimento médico, chegou já desacordada e nunca foi comprovada a sua identificação por algum familiar. Durante todos esses anos, ela ficou internada em estado vegetativo em hospitais da cidade.
Após o acidente, a paciente foi levada para o Hospital Estadual São Lucas, onde ficou por um ano. Depois, foi transferida para o Hospital da Polícia Militar (HPM), outra unidade estadual também em Vitória. E, já no primeiro dia no HPM, recebeu o apelido de Clarinha.
Médico Jorge Potratz cuidou de Clarinha por anos enquanto ela ficou internada em coma em hospital de Vitória
Reprodução/ TV Gazeta
O tenente-coronel Jorge Potratz, médico aposentado que cuidou da paciente ao longo dos anos, lembrou como aconteceu.
“Ela chegou em cima de uma maca, apenas com relatório de encaminhamento do outro hospital. Era muito jovenzinha, na casa dos 19, vinte e poucos. Já chegou com sequelas, sem identificação nenhuma. Já não havia muita expectativa que o caso pudesse ser revertido. Mas a gente precisava tratar ela com o mínimo de humanidade, e o nome surgiu no dia em que ela chegou mesmo”.
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Médico que cuidou de Clarinha por mais de duas décadas, coronel Jorge Potratz
Reprodução TV Gazeta
O médico, que passou a atendê-la diariamente, também explicou a escolha do nome e a importância desse “batizado” dentro da unidade hospitalar.
“O nome ‘não identificada’ é muito complicado para se falar, muito frio, a gente tinha que chamar de algum nome. Como ela era muito branquinha, a pele muito clara mesmo, a gente a apelidou de Clarinha. A ideia era que, se algum dia de fato aparecesse a família, a gente mudava novamente”, disse Potratz.
Outra hipótese para o nome é descartada
Clarinha ficou 24 anos em coma e sem identificação num hospital em Vitória, Espírito Santo
Arquivo
O médico aposentado descartou a possibilidade de um estagiário do hospital ter criado o nome para a paciente misteriosa, possibilidade que circulou na internet quando o caso voltou a ganhar repercussão. “Não foi assim que aconteceu, foi realmente um consenso da equipe médica”, afirmou.
De acordo com o tenente-coronel, ao longo do tempo toda a equipe se afeiçoou à Clarinha.
“O nome deu um caráter mais humanitário para ela. Sem nome a pessoa não é nada, a Clarinha não era e não é ainda considerada cidadã, não tinha documentos. O apelido era o que ela e a equipe tinham durante esse tempo todo”.
Possíveis parentes de ‘Clarinha’ fizseram testes para tentar comprovar parentesco
Reprodução/ TV Gazeta
Durante a carreira trabalhando em hospitais – exceto no caso da Clarinha -, o tenente-coronel nunca passou pela situação de precisar dar um nome a um paciente. “Já vi outras situações, mas todas temporárias. Acontecia de chegar vítimas de trauma, acidente, tiro, mas logo em seguida começavam a surgir as famílias e logo a pessoa era identificada”, contou.
No HPM, Clarinha era registrada com uma paciente internada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para efeitos de internação, no prontuário da paciente constava “não identificada”. Em algumas situações, aparecia o nome “Clarinha” entre parênteses. Entretanto, para conversar com ela, para interação da equipe, não havia dúvida, ela era sempre chamada pelo apelido.
Companheiros de quarto e visitas
A paciente misteriosa passou os 23 anos na enfermaria do hospital HPM sempre em quartos com duas camas. Segundo Potratz, todo o tipo de paciente esteve internado ao lado dela ao longo dos anos. “Muitas pessoas tiveram o prazer de conviver com a tranquilidade da Clarinha”, falou com carinho o médico aposentado.
Após morte de Clarinha, famílias procuram polícia por acreditarem em grau de parentesco
Nos períodos em que o caso recebeu mais divulgação, algumas pessoas que ficaram sabendo onde ela estava apareceram para visitá-la.
“De vez em quando aparecia alguém, uns por solidariedade, outros para ver se podia ser parente. Visitas nunca foram proibidas, mas tentavam fazer um trabalho de filtragem, era algo com limitação, e temos que lembrar também que estamos falando de uma área controlada, um hospital da polícia”, revelou Potratz.
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