Músico italiano compõe trilha para peça do Festival de Curitiba em quarto de hotel durante turnê: ‘Uma loucura, estava levando uma vida nômade’


Conheça o trabalho do premiado músico e compositor italiano Federico Puppi que vem conquistando a cena do teatro no Brasil. Ele é o responsável pela trilha original e direção musical do espetáculo Mutações, em cartaz na Mostra Lúcia Camargo, na 32ª edição do Festival de Curitiba. Federico Puppi no espetáculo Ficções na Mostra Lúcia Camargo.
Flavia Canavarro
O músico e compositor italiano Federico Puppi assina a direção musical e a trilha original da peça Mutações, da Mostra Lúcia Camargo, na 32ª edição do Festival de Curitiba. Para estar presente nesta edição do maior evento teatral do Brasil, ele passou por um processo de criação incomum, em um quarto de hotel, durante turnê da peça Ficções.
“Foi uma loucura, eu estava levando uma vida nômade, mas deu tudo muito certo porque toda a equipe estava disposta a criar, a colaborar. Todos sempre estavam buscando o encontro, as soluções”.
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Ele conta que em Mutações a questão estética da cena é muito forte. Como o diretor André Guerreiro Lopes trabalha com cinema, a peça é composta de quadros e por ter vários cortes e transições rápidas de cenas, as entradas de som, muitas vezes, são muito curtas.
“Foi desafiador, mas também divertido. Em uma das cenas a música é o próprio ritmo da palavra dos atores. O texto da Gabriela Mellão é poético, o que permite aberturas gigantes”, explica.
Mutações é uma peça livremente inspirada nas simbologias do “I Ching”, a mais consagrada obra milenar oriental. São três personagens – O Ancião, o Jovem e Ela que estão em um jogo de transformações. Em cena estão os atores Luís Melo, Andréia Nhur e Alex Bartelli.
Os ingressos estão esgotados. Contudo, o Festival de Curitiba é grande festa das artes cênicas que terá mais de 300 atrações culturais entre 25 de março até 7 de abril.
Frederico assistia ao ensaio de Mutações apenas uma vez por semana em São Paulo, e, claro, trocava muitas ideias com o diretor por conversas e vídeos.
“Fazer música para o teatro se parece muito com cozinhar. Às vezes, me sinto abrindo uma geladeira cheia de ingredientes ótimos e o meu papel é criar uma boa receita com tudo isso e ativar todos os sentidos da plateia provocando uma explosão de sabores e sensações”, compara.
Há mais de uma década no Brasil, em 2015, Federico teve obra “O Canto da Madeira”, reconhecida como o melhor disco instrumental do ano pela crítica especializada. Carrega na sua história indicações ao Grammy e parcerias como conhecidos músicos brasileiros. Conheça mais sobre Frederico Puppi abaixo.
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Trajetória no Teatro
Federico Puppi e Vera Holtz no espetáculo Ficções na Mostra Lúcia Camargo.
Flavia Canavarro
Federico começou a criar músicas para o teatro em 2014. Mas, o divisor de águas foi em 2018, quando fez sua primeira colaboração para o espetáculo do diretor Rodrigo Portella, “As Crianças”.
“Rodrigo é uma das pessoas mais sensíveis que conheço. Aprendi com ele a forma de pensar a cena e isso me revelou um espaço enorme de criação na minha cabeça”, declara.
Para ele, fazer música para o teatro é se abrir para muitas possibilidades, já que a trilha se soma a outros elementos da cena.
“O teatro me dá muita liberdade criativa e isso mudou, inclusive, minha maneira de compor, influenciando diretamente meus trabalhos autorais. A música no teatro não é sobre ouvir, mas sentir com o corpo inteiro.”
Ele destaca a importância de se comunicar com o público e o quanto é preciso estar claro com quem se está falando. E, mesmo que seja para gerar um incômodo, essa comunicação precisa ser acolhedora.
“Não me interessa ouvir a música, mas senti-la. Meu crescimento artístico se deu por meio do teatro, meu entendimento mudou completamente. A partir do ouvido, a entrada primária do som, eu posso chegar a outras partes do corpo e da mente das pessoas que me ouvem. A liberdade que se pode exercer no teatro ampliou minha forma de me expressar. Não consigo mais pensar nos meus shows sem pensar em cenas. Estou totalmente contaminado”, afirma.
Na edição do Festival de Curitiba de 2023, o músico italiano radicado no Brasil, Federico Puppi assinava a composição musical de dois trabalhos da programação da Mostra Lúcia Camargo: “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”, espetáculo da Cia Dos à Deux e “Ficções”, escrita e encenada por Rodrigo Portella, onde além de criar a trilha sonora, também dividia o palco com a atriz Vera Holtz.
Federico não só tocava em cena, mas também contracenava como ator na peça. Em ambas, ganhou o prêmio APTR 2023 de melhor trilha sonora original.
De um pequeno vilarejo em meio ao Alpes italianos para o mundo
Federico nasceu no noroeste da Itália, em meio aos Alpes, na região do Vale de Aosta, em Hône, município com cerca de 1.200 habitantes.
Foi a avó que o matriculou, quando ele tinha apenas quatro anos de idade, em um curso para aprender a tocar violoncelo pelo Método Suzuki, do Japão.
Seguiu com esta técnica até os 14 anos e depois entrou no conservatório onde recebeu formação erudita.
Na adolescência se interessou pelo punk rock e fez parte de uma banda de música instrumental experimental. Também teve a fase em que se apaixonou pelo jazz e pela sonoridade étnica da worldmusic.
“Experimentei muitas coisas com o violoncelo, mas nunca larguei o instrumento, desde o primeiro dia que toquei algo mágico aconteceu. Me encantei com a possibilidade de poder fazer música. Hoje prefiro tocar músicas do meu tempo, do agora. Sou filho dessa época”, define.
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Ele vive no Brasil desde 2012 e, de acordo com o músico, foi morando aqui que, de fato, passou a entender a música brasileira, sua influência africana, o universo do samba e a descobrir o mundo da percussão.
“Na verdade, este encontro sempre estará em processo porque a música do Brasil é um universo imenso. O que me surpreende na música brasileira é a capacidade de englobar, de juntar elementos de outras culturas, de transformar e de criar a sua própria linguagem. É uma das culturas mais ricas que conheço. Já viajei muito e nunca encontrei nada parecido. Estou no lugar certo”, afirma.
Em 2015 lançou seu primeiro disco autoral, “O Canto da Madeira”, considerado o melhor disco instrumental do ano pela crítica especializada.
Na sequência: “O Marinheiro de Terra Firme” (2018) com participação de Milton Nascimento; “Ceci N’est Pas Um Bach – Cello Suite nº1” (2020) e Crisalide (2022), que já alcançou mais de 1 milhão de plays.
Federico fez parte da banda fixa da cantora Maria Gadú por 4 anos e é coprodutor do disco “Guelã”, pelo qual foi indicado ao Grammy Latino em 2015 e, em 2014, ao Grammy USA com o disco “Magic” de Sergio Mendes.
Em parceria com o percussionista Marco Lobo criou em 2017 o duo Yamí Music.
“Percorri muitos caminhos e o que nunca perdi foi o entusiasmo e o encantamento de fazer nascer o som do silêncio. Carrego em mim a sensação das montanhas de onde venho. Por vezes, podem parecer um muro de pedras gigantesco, mas quando você está lá no alto descobre que se trata de uma ponte, com horizonte muito amplo e, ainda, com algo acima. Trago dentro de mim o silêncio daquele espaço aberto e o desejo de me comunicar com algo mais elevado”, encerra.
32º Festival de Curitiba
🗓️ Quando: 25/3 a 7/4 de 2024.
💵 Valores: até R$ 85;
🎟️ Ingressos: neste link e na bilheteria do Park Shopping Barigüi, de segunda-feira a sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados, das 12h às 20h.
🔴 Verifique a classificação indicativa e orientações de cada espetáculo
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