Caso Clarinha: Procedimento pós-morte colhe digital completa pela primeira vez e descarta possíveis parentes


Imagens perfeitas dos dois polegares foram colhidas por peritos e estão sendo comparadas com as documentações de parentes de famílias que se apresentaram à Polícia Civil. Exames de alguns possíveis parentes já foram descartados. Pela primeira vez, foram colhidas digitais completas de Clarinha para realização de comparações. Espírito Santo.
Divulgação/PCIES
Durante os 24 anos em que esteve internada, nunca foi possível colher digitais de Clarinha, paciente misteriosa que morreu na quinta-feira (14), em Vitória. Entretanto, essa situação mudou no último final de semana, quando peritos capixabas realizaram um procedimento pós-morte que permitiu o levantamento de digitais completas para realização de comparações e exames. Essa técnica só é possível em pessoas mortas, por isso só foi possível ser realizado agora.
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A história de Clarinha ganhou repercussão após uma reportagem sobre o caso ser exibida no Fantástico, em 2016. A mulher foi atropelada em um Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. De lá, ela foi levada sem documentos para receber atendimento médico, chegou já desacordada e nunca foi comprovada a sua identificação por algum familiar. Durante todos esses anos, ela ficou internada em estado vegetativo em hospitais da cidade.
O Perito Oficial Criminal João Carlos Quemelli, do Laboratório de Necropapiloscopia Forense da Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES), explicou que o procedimento se chama “excisão da falange”, e só foi feito agora porque é realizado apenas em cadáver.
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Perito João Carlos Quemelli mostra as digitais dos polegares de Clarinha. Espírito Santo.
Divulgação/PCIES
“A gente tira a epiderme do polegar de maneira muito paciente e minuciosa. E a digital é colhida na derme, camada mais profunda da pele. Quando a gente fala que uma pessoa não tem digital, como era o caso da Clarinha, a digital não existe apenas na camada exterior, por causa de alguma lesão, alergia… Mas, existe ainda na derme, e foi onde buscamos”, descreveu.
“Em 2016, digitais parciais da Clarinha já tinham sido colhidas, mas de maneira muito fragmentada, ela praticamente não tinha a identificação mesmo. Com a excisão de falange, temos impressões digitais dos dois polegares, perfeitas para comparação, dez amostras de cada dedo”, continuou João Carlos.
Tentativa de colher digitais de Clarinha foram feitas ao longo dos 24 anos em que ficou internada em coma em Vitória
Reprodução/ TV Gazeta
O perito reforçou que cada digital é única e detalhou como a comparação funciona em um caso como esse, quando as famílias se apresentam. Ou seja: apenas a digital não é capaz de identificar com 100% de certeza a existência de um possível parente.
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“Não temos como comparar a digital de uma pessoa com a outra, elas não têm relação. O que acontece nestes casos é uma primeira exclusão, ou não, de um parentesco através da comparação com registros de documentos existentes”, explicou.
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“Ou seja, se chega uma pessoa ao DML dizendo que a Clarinha pode ser sua mãe, a gente pergunta o nome completo dessa suposta mãe, nome dos avós maternos e onde essa pessoa teria sido registrada. A partir daí, solicitamos esses registros, supondo que é uma pessoa adulta, com documentos, para fazer a comparação com as digitais completas colhidas da Clarinha”.
João Carlos afirmou que com esse processo de identificação, é possível descartar se trata ou não do parente que a pessoa/família que se aparenta à polícia está procurando.
“Inclusive, já descartamos duas conexões que apareceram depois da morte. A de um rapaz capixaba que alegava ser filho de Clarinha, e a de uma família da Bahia. No caso dessa família, as digitais da Clarinha foram comparadas com documentos da desaparecida que foram registrados em São Paulo, e deram negativo. Os dois casos não vão nem chegar a ir para DNA”.
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De acordo com João Carlos, os peritos já estão cientes de outras duas famílias, de Brasília e do Paraná, que se apresentaram e vão ter informações e documentos levantados para o trabalho de identificação.
Como Clarinha era uma pessoa adulta, os peritos acreditam que existe a comparação das digitais em algum estado, através de documentos registrados, por isso, existe a chance de uma comparação ser positiva. “Se ela for um desses raros casos sem identidade em nenhum estado brasileiro, o caminho é só pelo DNA mesmo”.
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De acordo com João Carlos, a comparação de amostras de digitais é a primeira opção nesses casos, por causa do tempo de resposta. “No caso da análise de digital, no mesmo dia já temos a resposta. Já o resultado de um exame de DNA demora cerca 30 a 40 dias”, comparou.
Banco Nacional de Perfis Genéticos
O perito Oficial Criminal Caio Nucci de Araújo, chefe do Laboratório de DNA Forense da Polícia Científica do Espírito Santo (PCIES), informou que o perfil genético da Clarinha está inserido no Banco Nacional de Perfis Genéticos desde 2015.
Peritos Caio Nucci de Araújo (esquerda) e João Carlos Quemelli (direita), conversaram com a imprensa sobre o trabalho no Caso Clarinha. Espírito Santo.
Divulgação/PCIES
“Infelizmente, até o momento, nenhuma família foi compatível pelo banco. As buscas são feitas de forma automática quando um novo perfil é inserido. O que a gente faz continuamente, desde que encaminhado ao laboratório, é coletar e processar o material genético de possíveis novos familiares”.
No Espírito Santo, 354 perfis genéticos de restos mortais não identificados estão registrados no banco, além de quatro perfis de pessoas de identidade desconhecida – que é o caso da Clarinha -, e seis perfis genéticos oriundos de referência direta de pessoas desaparecidas, como uma escova de dente, algum material inequivocamente atribuído àquela pessoa.
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