Artista está com três trabalhos em cartaz na 32ª edição do Festival de Curitiba, que acontece de 25 de março a 7 de abril. Fernando Marés atua como cenógrafo e cenotécnico e está com três trabalhos no Festival.
Maringas Maciel
São mais de 40 anos, de modo contínuo, praticamente sem intervalos, que Fernando Marés atua como cenógrafo e cenotécnico. Ele perdeu a conta de quantos cenários fez para produções teatrais locais e nacionais.
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São tantos espetáculos no currículo que ele mal sabia que estava com três trabalhos na 32ª edição do Festival de Curitiba:
“Surdo, Logo Existo” no Teatro Universitário de Curitiba, dia 29 de março, às 20h 🎭
“Aqui, Amanhã é Outra Imagem” no Teatro Novelas Curitibanas, dias 04 e 05 de abril, 15h 🎭
Mostra Surda de Teatro no Teatro Universitário de Curitiba, de 29 a 31 de março 🎭
Um dos marcos na sua trajetória foi a montagem pelo TCP (Teatro de Comédia do Paraná) do Teatro Guaíra, nos anos 90, do espetáculo “O Processo” de Franz Kafka, com direção de Beto Meira.
“Foi um trabalho muito impactante, avancei na questão da ocupação do espaço e da estética. A cenografia tomou a proporção da encenação”, conta Marés.
A montagem de “Os Incendiários”, do diretor Felipe Hirsch, em 2000, também revelou o tamanho do cenógrafo ao ocupar o palco como um todo, trazer movimento para a cena e de se apropriar da dramaturgia. “A cenografia tem esse poder de encenar junto”, diz.
Outros trabalhos icônicos onde ele sente que deu um salto foram realizados para a Companhia Brasileira de Teatro, com direção de Marcio Abreu: “Vida” (2010) e “Esta Criança” (2012), com o qual ganhou, no mesmo ano, o Prêmio Shell de Cenografia.
Espetáculo “Esta Criança” é dos trabalhos de Fernando Marés.
Sandra Delgado
Marés é formado como ator pelo Curso Permanente de Teatro (CPT) do Teatro Guaíra (1979), mas sempre se interessou pelo espaço, pela arquitetura.
Desde essa época já fazia cenários. A formação na área foi se dando com a prática. “Sou autodidata, descobri um modo de fazer e de estudar por conta própria”, declara.
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Em 2014 concluiu um Mestrado na área da cenografia pela UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina) e sua pesquisa abordou o que ele já vinha praticando, a cenografia como linguagem dramatúrgica, a busca pela visualidade e a criação de um espaço que apresente e represente junto com a encenação.
Para ele o grande exercício é se colocar em propostas difíceis, por vezes, até impossíveis.
“A cenografia é um mundo aberto e com muitas possibilidades, inclusive arriscar não fazer nada, partir para o minimalismo pode ser um ato de muita coragem. Às vezes, aquela dramaturgia não precisa de tanta interferência. Embora exista o desejo da produção de fazer algo, nem sempre é necessário”, conta.
O amadurecimento profissional, na opinião dele, é resultado da busca constante de renovação e a vontade de encarar novos desafios.
“Sou um cenógrafo eclético, posso fazer uma encomenda, posso usar recursos corriqueiros, mas gosto mesmo é de instalar um processo de trabalho para trocar e estabelecer a cenografia como campo de atuação. O ato cenográfico nasce no processo. Precisa de muita conversa para se chegar ao destino desejado. Há o desejo do coletivo, dos profissionais envolvidos no trabalho, o meu próprio, mas o fundamental é servir a encenação. ”
Ele explica que o papel da cenotécnica é fundamental para se chegar ao resultado estético e expressivo desejado.
É ela que dá vida, que anima e faz tudo acontecer. É a matriz da cenografia. Por isso, um cenógrafo precisa entender de materiais, ferramentas, maquinários, de processos construtivos.
“O avesso da cena é riquíssimo. O que tem detrás daquela parede? Por trás da cena há um universo”, denuncia.
Como se cria um cenário?
O processo inicial do cenógrafo, que também é figurinista e artista plástico é solitário. Ele parte do desenho, da pintura e depois encontra a companhia, os atores, o diretor, o produtor que estão sedentos por uma imagem.
É a partir do desenho que Marés começa a avaliar o projeto de forma técnica, ou seja, se aquela ideia é viável e como pode ser executada. E à medida que vai desenhando, vai solucionando o projeto.
Mas, segundo ele, o que o público vê é resultado do esforço do trabalho de muita gente.
“Sou devoto de trabalhar em equipe, a turma da graxa, como são conhecidos: serralheiros, carpinteiros, maquinistas, costureiras, é que permite a realização, a concretização da mágica. Sem essa galera o teatro não funciona. Muitas soluções são os técnicos que dão para a cenografia”, revela.
Entre a imaginação e a materialização de um cenário existe um caminho a ser percorrido que requer proatividade, dinamismo para que o espetáculo de fato aconteça.
Alguns cenários, por exemplo, depois de finalizados precisam ser operados mecanicamente dentro de um determinado tempo e para que isso flua exige não só técnica, mas sensibilidade sensorial fina, percepção aguçada de tempo e espaço, campo que, de acordo com o cenógrafo, as mulheres normalmente são mais habilidosas.
E quando o trabalho circula por outros espaços ainda tem o desafio de adaptar o cenário em outros lugares, o que exige muita flexibilidade e criatividade.
Ele conta que muitas vezes a solução acontece através da criação de gambiarras que acabam sendo tão bem executadas que viram recurso permanente da obra.
“Gosto de entregar um bom espetáculo, mas o que me deixa empolgado é a produção. Adoro quando paredes caem, tetos despencam, buracos se abrem. Afinal, teatro é drama”, conclui.
32º Festival de Curitiba
🗓️ Quando: 25/3 a 7/4 de 2024.
💵 Valores: até R$ 85;
🎟️ Ingressos: neste link e na bilheteria do Park Shopping Barigüi, de segunda-feira a sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados, das 12h às 20h.
🔴 Verifique a classificação indicativa e orientações de cada espetáculo
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