Jéssica Borges e Erlijane Silva viram na reciclagem a possibilidade de construir um espaço adequado para tomarem banho e para as demais necessidades. Casal mora no Ramal Zé do Caboclo, zona rural de Mâncio Lima, no interior do estado. Foram construídas mais de 13 mil garrafas na construção de banheiro
Mazinho Rogério/Rede Amazônica Acre
A falta de um banheiro para atender às necessidades é uma realidade vivida por milhares de famílias no país. Na cidade de Mâncio Lima, interior do Acre, duas mulheres decidiram mudar essa situação e construir o próprio utilizando garrafas de vidro.
Jéssica Borges e a companheira Erlijane Silva são autônomas e viram na reciclagem a possibilidade de construir um espaço adequado para tomarem banho e as demais necessidades. Para isso, elas utilizaram mais de 13 mil garrafas adquiridas em um bar da região.
“Não tinha dinheiro para construir normalmente, o tijolo é caro e a melhor forma foi substituir. A gente mesmo que fez, não tínhamos material, nunca fizemos um curso profissional. [Usamos] aproximadamente 13 mil garrafas”, disse Jéssica.
O casal mora em uma comunidade do Ramal do Zé Caboclo, zona rural do município, e está junto há mais de seis anos. Sem emprego formal, as duas tentam superar as dificuldades da vida se reinventando dia após dia.
“As pessoas veem essas garrafas sem serventia nenhuma, mas, na minha opinião, tem muita serventia. Nós construímos um banheiro, é possível construir uma casa com garrafa reciclada. Ajuda a natureza porque leva anos e anos para se decompor, então, é uma forma de ajudar o meio ambiente”, destacou Jéssica.
Casal está junto há mais de seis anos e construiu um banheiro com garrafas de vidro
Reprodução
As garrafas foram utilizadas para levantar as paredes e o piso do banheiro. O projeto foi completado com a construção de uma fossa no quintal. O processo de construção levou três meses e, apesar da simplicidade, a ideia resolveu um problema sério para a família.
“É simples, mas atende as necessidades da gente. Para muitos pode ser pouca coisa, mas pra gente vale um grande sacrifício que tivemos. Tudo vale muito a pena”, destacou Erlijane Silva.
Sem um banheiro, Jéssica conta que a família não tinha um lugar adequado para fazer tarefas simples, como lavar roupa e louça. “Até as nossas necessidades era preciso ir para o mato”, resumiu.
Outros moradores sem banheiro
Quase todas as moradias do Ramal do Zé Caboclo não possuem um local adequado para suprir as necessidades da comunidade. Cristiane Muniz mora sozinha com a filha pequena e tira o sustento do dinheiro recebido do Programa Bolsa Família. Por isso, conta que ainda não teve condições de construir um banheiro.
“Só com o dinheiro do Bolsa Família não dá. Levantei a casa com o auxílio da maternidade dela [filha] porque nem a pensão o pai dá para ela”, lamentou.
Pesquisa do IBGE
Cerca de 139 mil moradores do estado do Acre vivem sem um banheiro dentro de casa. É o que mostrou um estudo do Instituto Trata Brasil divulgado em novembro do ano passado e feito em parceria com a EX ANTE Consultoria Econômica e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
O número representava aproximadamente 15,4% do total de pessoas no estado, a maior taxa do país. São cerca de 36 mil casas que não dispõe de um banheiro de uso exclusivo.
Conforme o estudo, no Acre, cerca de 13 a cada 100 pessoas moravam em residências sem banheiro de uso exclusivo. Esse também foi o pior índice relativo do país.
Com poucos recursos, dona de casa constrói banheiro com mais de 13 mil garrafas de vidro
Em números reais, na região Norte, os maiores problemas estavam nos estados do Pará e Amazonas, onde se situavam, respectivamente, 984 mil e 354 mil habitantes sem banheiro de uso exclusivo.
Já em fevereiro deste ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados do Censto de 2022 sobre o acesso ao saneamento básico, banheiros à coleta de lixo nos municípios do Brasil.
Com um recorte local, a pesquisa mostrou que em Mâncio Lima, por exemplo, apenas 67,77% dos moradores têm banheiro em casa, 2,57% da população têm esgoto adequado, 91,26% abastecimento de água e 64,11% coleta de lixo.
Colaborou o repórter Mazinho Rogério, da Rede Amazônica Acre.
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