
Bruna Barcelos diz que estudantes acessaram pastas particulares no celular dela e compartilharam as imagens. Secretaria de Educação diz que demissão foi por conta da convocação de aprovados em um concurso público. Professora denuncia que foi demitida após ter fotos nua vazadas por estudantes, em Valparaíso de Goiás
Divulgação/Bruna Barcelos
Uma professora denunciou ter sido demitida depois de ter tido fotos nuas vazadas por estudantes, em Alto Paraíso de Goiás. Bruna Flor de Macedo Barcelos explicou que as fotos foram vazadas depois de ela emprestar o celular para que os alunos tirassem fotos em um evento escolar. A Polícia Civil investiga o vazamento (veja o que se sabe sobre o caso abaixo).
“Me senti violada, violentada”, disse a professora sobre o vazamento.
Como aconteceu o vazamento?
Quando e como foi a demissão?
O que disse a escola?
O que disse a Secretária de Educação?
Estudantes são investigados pelo vazamento?
Como foi a repercussão da demissão?
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REPERCUSSÃO: Após descobrirem demissão, estudantes enviam mensagens de apoio à professora que teve fotos vazadas: ‘Vamos sentir sua falta’
1. Como aconteceu o vazamento?
Professora denuncia que foi demitida após ter fotos dela nua vazadas por estudantes
A professora Bruna Flor de Macedo Barcelos explicou que o vazamento aconteceu quando ela emprestou o celular para que os alunos pudessem tirar fotos de um evento escolar.
Essas fotos que os estudantes iriam tirar, segundo ela, posteriormente, seriam usadas em uma atividade pedagógica. No entanto, ao pegarem o aparelho, eles acessaram pastas particulares e compartilharam as imagens com os demais colegas.
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2. Quando e como foi a demissão?
Ao g1, a professora disse que está desempregada há quase 5 meses, desde que foi demitida pela escola em que trabalhava no dia 2 de novembro de 2023.
A professora relatou que a gestão da escola soube do ocorrido após uma coordenadora ver diversos estudantes reunidos e, ao se aproximar, ver que eles estavam olhando uma foto da professora nua. Segundo ela, mesmo assim, a gestão permitiu que ela trabalhasse até o final do dia com todos já sabendo do vazamento, exceto ela.
“Eu trabalhei até o quinto horário normalmente, sem saber de nada. Enquanto estava todo mundo já sabendo da situação, eu só vim a saber às 18 horas, quando a diretora, no final do dia, me chamou para uma reunião, dizendo que era [uma conversa] só eu entre mim e ela. Mas tinham seis pessoas na sala, me senti inibida e é onde ela me passou o fato. Fiquei estarrecida”, relembrou a professora.
Após a situação, a professora contou que passou a ser destratada no ambiente escolar por parte de colegas e da gestão. Conforme a professora, ela tinha um contrato de cinco anos com a escola, e a demissão ocorreu em menos de oito meses após o início do contrato, em 2023.
Bruna Barcelos contou que, para a demissão, a gestão da escola teria criado um ofício “dizendo que os estudantes se sentiam constrangidos de assistirem às aulas” dela por terem visto as fotos nuas.
“[Foi] uma inversão de quem foi vítima na situação”, disse a professora sobre o ofício.
Ela ainda falou que, por estar desempregada, passa necessidades.
“As consequências disso [da demissão] estão até hoje, porque eu fiquei sem como pagar o aluguel, estou vivendo na casa de pessoas, de 20 em 20 dias eu troco de casa. Tenho recebido muita humilhação, não estou tendo dinheiro para me alimentar, um constrangimento muito grande”, lamenta a professora.
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3. O que disse a escola?
Escola Estadual Doutor Gerson de Faria Pereira, em Alto Paraíso de Goiás
Reprodução/Google Street View
Um resposta a um outro ofício em defesa da professora, a Escola Estadual Doutor Gerson de Faria Pereira afirmou que o regimento escolar estipula que os professores não podem emprestar seus celulares de uso pessoal aos alunos.
A escola também destacou que as decisões foram tomadas em conformidade com o Estatuto da Criança e do Adolescente, que preconiza a proteção integral das crianças e seus direitos.
A instituição também alegou que orientou a professora a procurar a polícia. Bruna defende que o celular foi emprestado porque a escola não tinha aparelhos que fizessem filmagem e que o registro do evento, que fazia parte do Mês da Consciência Negra, era importante.
“Solicitar que estudantes façam o registro de uma atividade é dotá-los de autonomia. Tem valor imprescindível para um ser humano livre e cidadão”, afirmou.
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4. O que disse a Secretária de Educação?
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação (Seduc) explicou que a professora foi contratada em regime emergencial para suprir uma demanda da unidade escola. Além disso, afirmou que o desligamento dela se deu devido à convocação, em 2023, de novos professores aprovados no concurso público realizado no ano anterior, que assumiram, de forma efetiva, vagas dos contratos especiais na rede pública estadual de ensino.
Sobre o vazamento das fotos íntimas e da denuncia de que a professora foi destratada por colegas e pela gestão da escola, a Seduc disse somente que “segue a legislação de proteção à criança e adolescente, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)” (veja a nota completa ao final da reportagem).
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5. Estudantes são investigados pelo vazamento?
A professora denunciou o vazamento das fotos na Polícia Civil de Goiás (PCGO). Ao g1, a polícia explicou que e instaurou auto de investigação para apurar o caso. Na investigação, a vítima, a diretora da escola e professores já foram ouvidos (veja nota completa ao final da reportagem).
Ainda segundo a polícia, a Delegacia de Polícia de Alto Paraíso também já identificou os alunos que teriam acessado as mídias do celular da professora, após uma atividade escolar, e compartilhado as fotos. Por isso, “o procedimento apura o possível ato infracional análogo ao crime de divulgação de cena de nudez sem o consentimento da vítima”.
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6. Como foi a repercussão da demissão?
Após descobrirem demissão, alguns estudantes enviaram mensagens de apoio à professora que teve as fotos nuas vazadas.
“Bruna vou sentir muita a sua falta, você era a melhor professora que tinha aqui no Gerson. Te amo muito, você vai ser sempre lembrada”, disse uma estudante.
Mensagens enviadas por alunos à professora demitida
“É difícil colocar em palavras o quanto aprendi e cresci ao longo deste tempo sob sua orientação. Sua dedicação e paixão pelo ensino deixou uma marca profunda em mim. Vou sentir falta das suas aulas, mas levarei conhecimentos valiosos para toda a vida”, disse outro aluno.
“Professora, vim agradecer a você por tudo que a senhora fez por nós. Você vai estar para sempre em nossos corações, tia. A nossa madrinha de turma favorita”, afirmou outra menina.
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Nota da Seduc na íntegra
“Em atenção à solicitação de informações sobre o desligamento da professora Bruna Flor de Macedo Barcelos, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás (Seduc/GO) responde:
– A professora em questão havia sido contratada em regime emergencial para suprir uma demanda da unidade escolar. O desligamento da profissional se deu devido à convocação em 2023 de novos professores aprovados no concurso público realizado em 2022, que assumiram, de forma efetiva, vagas dos contratos especiais na rede pública estadual de ensino;
– Sobre os fatos que envolvem a conduta da professora, a Seduc Goiás esclarece que segue a legislação de proteção à criança e adolescente, por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), sempre trabalhando com zelo e prezando pela harmonia e respeito entre os servidores e estudantes.”
Nota da PCGO na íntegra
“A Polícia Civil de Goiás informa que instaurou auto de investigação para apurar o caso. A vítima, a diretora da escola e professores já foram ouvidos. A Delegacia de Polícia de Alto Paraíso também já identificou os alunos que teriam acessado as mídias do celular da professora, após uma atividade escolar, e compartilhado as fotos. Por isso, o procedimento apura o possível ato infracional análogo ao crime de divulgação de cena de nudez sem o consentimento da vítima. A PCGO informa que acompanha o caso detidamente, com prioridade, e já prestou as orientações devidas à vítima.”
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