Namorada não embarcou em Porsche após discutir e pedir para empresário não dirigir; ‘testemunho fundamental’, diz delegado


Namorada do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho deve depor nesta semana. Depois de discussão em casa de poker, só ele e amigo, internado em UTI após acidente, entraram no carro. Porsche atingiu e matou motorista de Sandero no último sábado, na Zona Leste de São Paulo. empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, e o delegado Carlos Henrique Ruiz, da 5ª Seccional Leste.
Montagem/g1/Reprodução
O delegado assistente da 5ª Seccional Leste, Carlos Henrique Ruiz, afirmou em coletiva neste sábado (6) que é “fundamental” o testemunho da namorada do empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, que dirigia o Porsche que atingiu e matou motorista de um Sandero na semana passada na Zona Leste.
Ruiz quer entender o motivo de ela não embarcar no carro com o namorado depois de uma discussão em casa de poker. Ela deve depor nesta semana.
“A namorada dele [Fernando] está intimada para essa semana. O depoimento dela é muito importante porque existe uma questão que parece que houve uma discussão na porta da casa de poker, onde foi falado que ele não deveria dirigir. Ele teria tido uma discussão com ela e ela pode esclarecer exatamente o que aconteceu, que discussão foi essa. Tanto que o amigo embarcou com ele no carro [e não ela]. Então, essa testemunha é fundamental.”
A Polícia Civil também pediu as imagens das câmeras dos policiais militares, que atenderam à ocorrência. O delegado afirmou que o pedido já foi feito, mas até hoje não receberam as imagens e nem a informação sobre a utilização ou não das câmeras pelos policiais militares.
“Eles [os policiais militares] foram ouvidos inicialmente no dia do acidente e serão novamente ouvidos, já com base nas informações que foram colhidas no inquérito policial. Eles erão reinquiridos sobre esses fatos novos que emergiram durante a investigação. Além do que, nós teremos acesso às câmeras corporais, claro, se eles tivessem usando. Nós estamos aguardando a vinda dessas câmeras”.
O crime ocorreu há uma semana, quando o empresário Sastre bateu na traseira do Renault Sandero e matou Ornaldo da Silva Viana, motorista de aplicativo de 52 anos. Sastre foi indiciado por homicídio doloso, com dolo eventual.
Também neste sábado, a Polícia Civil protocolou na Justiça um novo pedido de prisão – agora preventiva – contra Sastre (leia mais abaixo). A decisão deve sair somente na segunda ou terça-feira, já que o pedido seguiu para o Tribunal do Júri e a análise não será feita pelo plantão.
Os policiais militares que atenderam a ocorrência, acabaram liberando o motorista do Porsche para sair do local do acidente sem fazer o teste do bafômetro nele. O equipamento poderia indicar se o empresário havia bebido álcool enquanto dirigia, o que é crime.
Os policiais militares alegaram que a mãe de Fernando, Daniela Cristina de Medeiros Andrade, também foi ao local do acidente e disse que levaria o filho para tratar de um ferimento num hospital. Mas quando os agentes da PM foram depois a unidade médica, não encontraram nenhum dos dois.
A Corregedoria da PM apura se se os policiais militares que liberaram Fernando sem fazer o teste do bafômetro erraram no procedimento.
Para a Polícia Civil o motorista do Porsche havia fugido. Depois de 38 horas, ele se apresentou espontaneamente na delegacia que investiga o caso e negou que tivesse bebido ou fugido. Afirmou, porém, que estava “um pouco acimado limite” de velocidade para a avenida. Mas não soube informar a velocidade que estava no momento.
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O empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, de 24 anos, motorista da Porsche que coligidiu contra um carro de aplicativo e matou um motorista de 52 anos.
Montagem/Reprodução/TV Globo
Pedido de prisão
No novo pedido à Justiça, o delegado do 30° Distrito Policial, que investiga o caso, argumenta três pontos sobre Fernando Sarte:
garantia da ordem pública (motorista poderia cometer o mesmo crime de novo);
conveniência da instrução criminal (investigado poderia ameaçar ou subornar testemunhas ou vítimas);
garantia da futura aplicação da lei penal (risco de fuga do país pelo alto poder aquisitivo).
“[Fernando] praticou crime de extrema gravidade ocorrendo a morte e lesão das vítimas, fugindo do local dos fatos e, segundo testemunhas, estaria visivelmente embriagado, e ainda, já teve sua carteira de habilitação suspensa por desrespeito às normas de trânsito, podendo vir a praticar novamente outro delito de trânsito de forma abrupta”, disse o delegado Nelson Vinicius Alves.
“Há que se falar que causou o clamor público, deixando a sociedade indignada. Quando em liberdade, pode ameaçar ou subornar testemunhas, e até a vítima, para que prestem depoimento favorável a ele em juízo, podendo forjar provas em seu favor”, completou.
Fiança de R$ 500 mil
A promotora de Justiça Monique Ratton já emitiu parecer favorável ao novo pedido de prisão preventiva do delegado e pediu que a Justiça suspenda a habilitação de Fernando Sastre, além de apreender o passaporte dele.
Monique Ratton também solicitou ao juiz que estipule uma fiança de R$ 500 mil para o caso, em virtude da alta capacidade financeira do investigado, que é sócio de uma construtora na capital paulista.
“Segundo as apurações em andamento há indícios claros de que [Fernando] não só dirigiu em alta velocidade, mas teve atitude totalmente descompromissada com a vida própria, do amigo e de terceiros, colocando toda a sociedade em risco ao dirigir em péssimas condições e em alta velocidade com um carro de tamanha potência, mesmo após já ter sido punido administrativamente com a suspensão da CNH”, disse Ratton.
“[O investigado] não só assumiu risco de matar, como efetivamente causou a morte de alguém na direção do veículo automotor e deixou outra internada com complicações sérias”, declarou a promotora no parecer.
Monique Ratton também afirmou que Fernando e a mãe, Daniela Cristina De Medeiros Andrade, podem atrapalhar as investigações do caso.
1° pedido negado
Na segunda-feira (1°), a Justiça de SP já tinha negado o primeiro pedido de prisão temporária por entender que o pedido da Polícia Civil não atendeu os requisitos mínimos para decretação.
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No pedido de prisão temporária, o 30° DP tinha alegou que Fernando fugiu do local do acidente, estava em alta velocidade e que precisaria ser preso porque a sociedade pedia sua prisão.
Entretanto, segundo o Código de Processo Penal, a solicitação deve cumprir ao menos três requisitos:
quando a prisão é imprescindível para as investigações do inquérito policial;
quando o indiciado não tiver residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao esclarecimento de sua identidade;
quando houver fundadas razões de autoria ou participação do indiciado em crimes como homicídio doloso, roubo, estupro, sequestro etc.
Apesar de ter fugido do local do acidente, a magistrada ponderou que o empresário se apresentou espontaneamente na delegacia e se colocou à disposição para esclarecimentos necessários sobre os fatos. Fernando também tem residência fixa.
“Ocorre que, no caso em tela, a autoridade policial sequer narrou a necessidade da prisão pela qual representou, limitando-se a sustentar a gravidade dos fatos e o clamor público por Justiça. Não esclareceu a representante porque a medida cautelar seria necessária para as investigações, tampouco mencionou não ter o indiciado residência fixa ou não ter esclarecido sua identidade”, justificou a juíza Fernanda Benevides.
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Testemunha do caso viu garrafas
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Uma testemunha contou nesta sexta-feira (5) à TV Globo que falou para a Polícia Civil ter visto três garrafas de vidro dentro do Porsche do empresário Fernando Sastre após ele bater no Sandero de Ornaldo da Silva Viana.
A informação sobre as garrafas encontradas no carro de luxo não está, no entanto, no depoimento em que a testemunha deu à Polícia Civil sobre o caso. A mulher prestou depoimento na terça-feira (2) com o 30º DP.
Testemunha contou ter dito à polícia que viu três garrafas de bebida dentro do Porsche, mas informação não está no depoimento dela
Lucas Jozino/ TV Globo
A testemunha é a mesma que tinha dito anteriormente que viu Fernando com sinais de embriaguez, voz pastosa e cambaleando após ele bater o Porsche no Sandero.
“O pouco que eu vi tinha umas garrafas na parte do passageiro. Só que eu não sei precisar que tipo de garrafa é essa. Acho que tinha umas 3 dentro”, disse a mulher, que aceitou falar com a reportagem sob a condição de não divulgar seu nome e mostrar o rosto.
Amigo de empresário está na UTI
Marcus Vinicius Machado Rocha, amigo do motorista do Porsche que causou um acidente com morte continuava entubado e internado em coma induzido na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Luiz Anália. A informação foi confirmada nesta sexta-feira (5) ao g1 por pessoas que têm contato com a família do rapaz.
O estudante de 22 anos estava sentado no banco do carona do carro de luxo que era conduzido por Fernando, de 24 anos, e bateu na traseira do veículo de Ornaldo, de 52 anos, que morreu num hospital. Segundo testemunhas, as três pessoas usavam cintos de segurança.
Fachada do 30° Distrito Policial do Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo.
Reprodução/TV Globo
Marcus quebrou quatro costelas e precisou retirar o baço numa cirurgia. Seu estado de saúde ainda apresenta riscos. Por esse motivo não há previsão de alta. Ele ainda não foi ouvido pela polícia sobre o caso. Fernando teria tido um corte na boca, mas não foi para nenhum hospital.
Câmeras de segurança gravaram a batida na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé (veja vídeo abaixo). A Polícia Civil indiciou Fernando por homicídio por dolo eventual, quando se assume o risco de matar, lesão corporal e fuga do local do acidente. O empresário responde aos crimes em liberdade.
Empresário tomou ‘alguns drinks’
Segundo a namorada de Marcus contou no 30º Distrito Policial (DP), Tatuapé, eles, Fernando e sua namorada beberam “alguns drinks” num restaurante. Depois foram no Porsche e em outro carro para uma casa de pôquer com “open bar” (comida e bebida à vontade). Outras câmeras de segurança gravaram a chegada e saída do grupo do estabelecimento.
Em seguida, Fernando discutiu com a sua namorada, que não queria deixá-lo dirigir porque ele estava “alterado”. Marcus se ofereceu para conduzir o Porsche do amigo, que recusou. Então foi de carona com o empresário no veículo enquanto suas namoradas seguiram atrás em outro automóvel.
Novas imagens mostram motorista de Porsche antes e depois do acidente
Durante o trajeto, a namorada de Marcus contou que Fernando “acelerou” o carro de luxo e quando ligou para seu namorado, ele contou que o Porsche se envolveu num acidente. As namoradas dos rapazes foram ao local.
Outras testemunhas contaram à investigação que Fernando dirigia em alta velocidade, tinha sinais de embriaguez, voz pastosa e estava cambaleando. O limite de velocidade para a via é de 50 km/h.
Defesa cita ‘fatalidade’ e família de morto alega ‘injustiça’
Câmera de segurança gravou momento que Renault Sandero branco é atingido na traseira por Porsche Carrera azul em São Paulo
Reprodução/Redes sociais
A defesa de Fernando divulgou nota à imprensa informando que seu cliente não bebeu e que o acidente foi uma “fatalidade”.
Ele é gerente de uma das empresas da família e ganha R$ 15 mil de salário. Há cinco anos, foi aprovado em uma universidade privada da capital paulista, o Mackenzie, onde cursou engenharia civil por algum tempo. Segundo a instituição de ensino, ele não está matriculado lá desde 2021.
“Um sentimento de injustiça gigantesco dentro de mim”, escreveu nesta segunda em seu Instagram, Luam Silva, filho de Ornaldo. O motorista por aplicativo deixou mais dois filhos e e esposa.
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