Tom Homan foi encarregado por Donald Trump de cumprir a promessa de realizar a maior campanha de deportação da história do país. “Vamos ter a maior operação de deportação que este país já viu. E não vou me desculpar por isso”, disse Tom Homan no ano passado
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Ex-agente da patrulha de fronteira dos Estados Unidos, Tom Homan foi encarregado por Donald Trump de cumprir a promessa de realizar a maior campanha de deportação da história do país.
Como “czar da fronteira” do novo governo, Homan afirmou já ter dado início às operações da agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira (ICE, na sigla em inglês) em busca de imigrantes ilegais.
“Eles sabem exatamente quem eles estão procurando. Eles sabem muito bem onde encontrá-los”, disse em entrevista à emissora americana CNN.
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Segundo o oficial, as operações têm como foco inicial imigrantes ilegais com condenações criminais, mas pode haver prisões “colaterais” de pessoas indocumentadas, mas que não possuem passagem pela polícia.
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“O que está acontecendo na nossa fronteira é a maior vulnerabilidade de segurança nacional que já vi na minha carreira, e faço isso há mais de 35 anos”, disse Tom Homan em uma de suas primeiras entrevistas após assumir o cargo oficialmente.
“Vamos fechar essa fronteira e controlar esse problema.”
Homan disse ainda à emissora Fox News que, apenas na terça-feira (21), a ICE prendeu 308 criminosos graves na terça-feira.
Para efeito de comparação, em setembro de 2024, o último mês para o qual há dados disponíveis, o ICE prendeu 282 migrantes por dia.
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“Czar da fronteira” parece ser o título oficial de Homan. Ele é o primeiro a servir em tal cargo, já que esse papel não existia durante o primeiro mandato de Trump na Casa Branca.
Mas o americano de 63 anos não é desconhecido da atual administração republicano. Homan atuou no primeiro governo Trump, como diretor interino da ICE. Antes disso, foi agente da patrulha de fronteira e começou sua carreira como policial no estado de Nova York.
“Eu era um agente da patrulha de fronteira. Eu vesti o uniforme”, disse ele em uma entrevista à Fox no final do ano passado. “Tenho orgulhoso de ter usado o uniforme… Eu fui o primeiro diretor do ICE a subir na hierarquia.”
Mas segundo a imprensa americana, Homan passou muitos dos seus últimos anos como agente imigratório frustrado, já que muitas de suas visões e ideias eram consideradas linha-dura demais.
Quando foi abordado pela primeira vez sobre fazer parte de segundo governo Trump, Homan teria dito a Trump que estava tão irritado com a situação na fronteira que “voltaria de graça”, de acordo com o jornal The New York Times.
‘Choque e pavor’
Em novembro, antes de assumir seu cargo atual, Tom Homan disse que o público poderia esperar “choque e pavor” no primeiro dia do novo governo Trump.
Durante a Convenção Nacional Republicana, em julho do ano passado, ele ainda se dirigiu diretamente aos imigrantes ilegais: “É melhor vocês começarem a fazer as malas agora”, afirmou.
Tom Homan disse que o público poderia esperar “choque e pavor” no primeiro dia do novo governo Trump
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Mas muitos detalhes sobre a atuação de Homan e da ICE nos próximos anos ainda não foram revelados.
Durante o governo de Joe Biden, a agência de Imigração e Fiscalização Aduaneira foi instruída a se concentrar na deportação de criminosos graves, ameaças à segurança nacional e pessoas que cruzaram a fronteira recentemente.
Mas as declarações dadas pelo novo governo até o momento apontam para uma reversão dessa política, com imigrantes indocumentados que vivem nos EUA e não cometeram crimes também na mira das forças policiais.
Em entrevistas na terça-feira, o “czar da fronteira” detalhou parte dos esforços iniciais. Segundo ele, a ICE já realizou investigações para localizar criminosos que estão no país sem documentos e estão agindo para prendê-los.
Segundo Homan explicou à CNN, trata-se de uma “operação de execução direcionada”. Os ilegais detidos durante o processo serão processados e colocados em centros de detenções, antes de serem deportados para seus países de origem, disse.
O oficial afirmou que, em regiões onde esses imigrantes receberem proteção, os agentes da ICE serão obrigados a fazer buscas e prisões em suas casas ou trabalhos, o que pode também levar à detenção de outros ilegais no local.
Homan se referiu especialmente às chamadas “cidades santuário”, jurisdições que têm políticas projetadas para limitar a cooperação ou o envolvimento em ações federais de fiscalização da imigração.
“Nós vamos nos concentrar em ameaças à segurança pública”, disse. “Mas nas cidades santuários, onde não nos deixarem levar essas ameaças sob custódia na segurança de uma prisão, nós vamos atrás delas. E se eles [os imigrantes] estiveres com outros que estão no país ilegalmente, ICE não vai virar as costas para isso.”
Deportação de famílias e reversão de políticas
Homan desempenhou um papel importante na controversa política de “tolerância zero” de Trump, que separou milhares de crianças migrantes de seus pais durante o primeiro mandato do republicano.
A política gerou reação negativa quando famílias foram separadas durante o processamento de seus casos.
Acredita-se que entre 2017 e 2021, o governo do ex-presidente Donald Trump tenha separado pelo menos 3,9 mil crianças — algumas com apenas alguns meses de vida — dos pais ao longo da fronteira dos EUA com o México.
A política tinha como objetivo desencorajar migrantes de entrar nos Estados Unidos e permitia que o Departamento de Justiça processasse e deportasse adultos que cruzassem a fronteira ilegalmente, colocando seus filhos sob custódia do governo.
Homan disse que não escreveu o memorando em que a política se baseava e que levou às separações, mas admitiu foi um dos três funcionários que o assinaram. Ele disse que assinou “na esperança de salvar vidas”.
Nesse novo governo, Homan indicou que não tentaria restabelecer a política de “tolerância zero”. Em vez disso, ao ser questionado sobre o caso, ele disse que famílias poderiam ser “deportadas juntas”.
Donald Trump e Tom Homan em reunião sobre imigração na Casa Branca em março de 2018
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Na terça-feira, o Departamento de Segurança Interna também anunciou o fim de uma política que restringia a capacidade dos agentes de Imigração e Alfândega de prender imigrantes ilegais considerados sensíveis, como igrejas, escolas e hospitais. A restrição estava em vigor desde o governo Barack Obama.
Homan já havia adiantado essa possibilidade em entrevistas durante 2024. O ‘czar da fronteira’ também apontou para a retomada das prisões em massa de imigrantes em locais de trabalho — que Biden descontinuou em 2021.
“Vamos ter a maior operação de deportação que este país já viu”, disse Homan em uma entrevista de dezembro, concedida ao comentarista conservador Benny Johnson. “E não vou me desculpar por isso.”
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