‘Canina’ transforma Amy Adams em cachorra para explorar maternidade e fúria feminina, diz diretora


Marielle Heller explica ao g1 como foi convite da atriz para que adaptasse livro de Rachel Yoder. Filme estreou na última sexta-feira (24). Algumas ideias às vezes atraem a atenção do imaginário coletivo antes mesmo de qualquer explicação ou desenvolvimento. Como quando o trailer de “Canina” mostrou a atriz seis vezes indicada ao Oscar Amy Adams se transformando em uma cachorra.
No filme, que estreou na última sexta-feira (24) na plataforma de streaming Disney+, a americana (nascida na Itália) de 50 anos passa pela metamorfose para explorar temas como maternidade e fúria feminina – sem perder de vista o absurdo de sua trama, que mistura fantasia e comédia com pitadas de sangue.
Infelizmente, a obra nunca atingiu o potencial da expectativa gerada pelo conceito – e pelo choque do título original, “Nightbitch”, que poderia ser traduzido como “cadela noturna” ou uma variação até mais pesada de “vadia da noite” – e passou em branco pela temporada de premiações.
O que não significa que a adaptação do livro de mesmo nome de Rachel Yoder não tenha alcançado seus próprios objetivos.
“É interessante. Nós definitivamente lutamos contra as expectativas das pessoas sobre o que o filme seria. Acho que, com um título como esse, você nunca sabe o que esperar e algumas pessoas presumiram erroneamente que se tratava de um filme de terror – o que não é verdade”, diz ao g1 a diretora e roteirista Marielle Heller.
“Mas eu sempre amei falar o título por causa disso e sinto que há tanta conversa sobre esses temas de divisão de trabalho e cuidar dos filhos e maternidade e fúria feminina recentemente que acho que acertamos em algo em relação à atualidade da história.”
Assista ao trailer de ‘Canina’
Loba
Em “Canina”, Adams interpreta a Mãe – assim, com letra maiúscula mesmo, já que seu personagem não tem nome – de um bebê, uma dona de casa em um casamento desgastado, que aos poucos se transforma em uma cachorra durante as noites.
“Para mim, parte do que fazia essa personagem tão maravilhosa é que ela não ficava lutando contra sua nova aparência. Toda a transformação meio que tinha esse lado de liberação, porque, no fim, a metamorfose era ela aceitando essa parte feral de si mesma”, fala Heller.
“Isso faz dela uma mãe melhor, ela se sente mais em contato com seu corpo e gera muita positividade. Não é uma espiral para a escuridão – por mais que haja momentos mais sinistros.”
A cineasta americana de 45 anos, mais conhecida por filmes como “Poderia me perdoar?” (2018) e “Um dia lindo na vizinhança” (2019), foi convidada para dirigir e escrever a adaptação pela própria Adams, que já estava envolvida como produtora e protagonista.
“Amy trouxe ele para mim com os melhores argumentos que poderia ter usado. Algo meio: ‘Amo esse livro. Você é a primeira pessoa em que eu pensei. Mas não faço ideia de como transformá-lo em um filme'”, conta ela.
“Então, foi um desafio divertido, porque eu podia realmente deixar minha marca nele e torná-lo em algo meu. Ao mesmo tempo, eu tinha a Amy na minha cabeça o tempo inteiro enquanto escrevia.”
Amy Adams em cena de ‘Canina’
Divulgação
‘Aqui estou eu’
Um dos grandes desafios da produção, no fim, foi encontrar o cachorro (ou cachorra) ideal para interpretar a versão canina de Adams.
Depois de determinar que um husky vermelho seria o melhor para representar os famosos cabelos ruivos da atriz, a diretora descobriu que tinha um grande problema pela frente.
“Eu queria uma cadela que parecesse poderosa e divertida. Eu tinha todos esses motivos na minha cabeça pelos quais o husky vermelho seria perfeito e então nosso treinador disse que não havia um animal sequer da espécie, em todo os Estados Unidos, que trabalhasse em filmes.”
A produção expandiu a busca para abrigos pelo país. Quando Heller já se preparava para desistir e escolher outra espécie, a husky que seria batizada de Juno – “muito dócil, doce, motivada por comida e ansiosa por agradar” – foi encontrada em um canil na Califórnia.
Durante os cinco meses em que passou pelo treinamento para seguir suas orientações nas gravações, ela criou um vínculo tão forte com sua adestradora que foi adotada por ela.
“Ela vinha ao estúdio e todo mundo ficava tão feliz. A Amy ficava radiante ao vê-la. Era colocar uma câmera nela e você podia ver que ela era uma estrela. Ela ficava, tipo, ‘aqui estou eu’. Ela é linda.”
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