O maior risco para a vida selvagem é após o incêndio — mas muitas espécies evoluíram para aproveitar as oportunidades criadas por outras. O maior risco para a vida selvagem é após o incêndio — mas muitas espécies evoluíram para aproveitar as oportunidades criadas por outras
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Imagens impressionantes dos incêndios florestais na Califórnia povoaram o noticiário nas últimas semanas. Ao lado de casas e pertences queimados, surgiram imagens de um filhote de cervo em busca de refúgio em meio à fumaça, enquanto uma foto da agência de notícias Reuters registrou uma tartaruga do deserto vagando pelas ruas entre os desalojados.
Mas, embora, assim como os seres humanos, a vida selvagem seja suscetível aos perigos imediatos do fogo, desde a inalação de fumaça até o estresse térmico, pesquisas mostram que, surpreendentemente, há poucas mortes de animais como resultado direto do fogo. Em vez disso, a vida selvagem tende a ser mais vulnerável logo após o incêndio, quando os abrigos e os alimentos são escassos.
Mas como as diferentes espécies conseguem sobreviver em meio à devastação? E em um mundo com incêndios de proporções cada vez maiores, exacerbados pelas mudanças climáticas, será que há alguma maneira de os seres humanos ajudá-los?
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Um processo natural
O fogo é um problema grave para os seres humanos, principalmente quando eles constroem em áreas propensas a incêndios, e as perdas de vidas, de propriedades e para a economia podem ser imensas. Estima-se que os incêndios florestais de Los Angeles, ocorridos em janeiro de 2025, tenham custado mais de US$ 135 bilhões.
No entanto, isso não é intrinsecamente um problema para a vida selvagem. Um estudo, que analisou os resultados de 31 artigos de pesquisa de 1984 a 2020, mostrou que 65% dos estudos não registraram nenhuma morte de animais como resultado direto dos incêndios. Muitas espécies têm uma estratégia para evitar o fogo propriamente dito, que vai desde simplesmente fugir até se esconder em tocas subterrâneas ou se abrigar nas copas das árvores.
Morgan Tingley, professor de biologia evolutiva da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), enfatiza que o fogo é uma parte natural de muitos ecossistemas. Só a Califórnia vivencia isso de várias maneiras diferentes: o habitat chaparral de vegetação densa e arbustiva, onde alguns dos incêndios de janeiro de 2025 em Los Angeles parecem ter começado, é caracterizado por invernos úmidos e amenos e verões quentes e secos, com incêndios ocasionais e muito intensos; enquanto as florestas no norte da Califórnia estão acostumadas a queimadas de baixa intensidade mais regulares.
O fogo libera nutrientes no solo e cria variações nos padrões de vegetação em grandes áreas, explica Gavin Jones, pesquisador ecologista da Rocky Mountain Research Station, e os animais e as plantas evoluíram para conviver com ele no mundo todo. Na Austrália, por exemplo, as equidnas entram em um estado semelhante à hibernação chamado “torpor” durante os incêndios florestais, até que o perigo tenha passado.
Não se trata apenas de sobrevivência; muitas espécies precisam do fogo para reprodução, alimentação e recursos. “Se não tivéssemos fogo em nosso sistema, perderíamos a biodiversidade”, diz Tingley.
Os incêndios florestais são importantes para manter a biodiversidade em muitos ecossistemas, mas estão aumentando devido às mudanças climáticas, colocando este equilíbrio em risco
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Pesquisadores da Pacific Southwest Research Station descobriram que os polinizadores se dão bem após incêndios moderados em florestas de terras altas. Os insetos voam para longe ou se enterram no subsolo, e a abertura de brechas na copa das árvores proporciona uma maior variedade de flores para eles se alimentarem e locais para fazer seus ninhos.
Árvores como a sequoia dependem tanto do calor intenso para liberar as sementes das suas pinhas e se reproduzir, que seu número parece estar diminuindo — em parte, devido aos esforços humanos para suprimir os incêndios.
Refúgios naturais
Várias espécies prosperam sob as condições criadas após um incêndio florestal, e o pica-pau-de-dorso-preto é um exemplo. “É a ave pós-fogo mais característica do oeste da América do Norte”, diz Tingley. Este pássaro aproveita o enorme bufê de insetos que pode ser encontrado dentro das árvores mortas e moribundas após a propagação de um incêndio, explica.
Em seguida, o pica-pau cava buracos nas árvores danificadas onde põe seus ovos, contando com uma verdadeira colcha de retalhos de terras queimadas ao lado de florestas ainda verdes para que seus filhotes se escondam dos predadores. Essa interação complexa entre os padrões de fogo e a vida selvagem é chamada de pirodiversidade, e proporciona uma variedade de habitats para que diferentes espécies vivam e passem por diferentes partes do seu ciclo de vida.
As cavidades que o pica-pau-de-dorso-preto e espécies relacionadas constroem para se reproduzir também ajudam a repovoar as florestas queimadas. As cavidades que cavam nas árvores fornecem um habitat vital para muitas outras espécies que são importantes para a regeneração de áreas queimadas após incêndios florestais.
Entre elas, estão aves e mamíferos dispersores de sementes, aves insetívoras que controlam as pragas e permitem que a vegetação se recupere mais rápido, e pequenos predadores. Isso faz com que o pica-pau seja um importante engenheiro ecológico em habitats propensos a incêndios, assim como os castores, que ajudam a manter os incêndios sob controle construindo represas que espalham a água por paisagens áridas.
O pica-pau não é a única espécie a prosperar em paisagens devastadas pelo fogo. A tartaruga Gopherus polyphemus cava longas tocas que usa para escapar dos incêndios florestais na Flórida e do Sol intenso; estas tocas, por sua vez, são usadas como abrigo ou para alimentação por mais de 350 outras espécies.
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Uma ameaça crescente
Esta é apenas uma das muitas maneiras pelas quais os animais interagem com os incêndios florestais, de acordo com um estudo conduzido por Claire Foster, pesquisadora da Universidade Nacional da Austrália — uma relação que pode ser sutil, mas significativa.
Alguns engenheiros do ecossistema alteram a quantidade, a estrutura ou a condição do combustível disponível para um incêndio; herbívoros que pastam devoram a vegetação seca e inflamável, enquanto outros escavam o solo, o que ajuda a decompor a camada de restos de folhas.
As tocas desta espécie de tartaruga são usadas por até 350 outras espécies, que frequentemente se abrigam nelas durante ondas de calor ou incêndios florestais
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E os animais nem sempre agem de forma que os seres humanos possam considerar benéfica. Na Austrália, pesquisas científicas confirmaram histórias indígenas ancestrais sobre aves que propagam incêndios soltando gravetos em chamas em áreas não queimadas para expulsar as presas.
Mas os incêndios florestais estão se tornando mais comuns, mais intensos e de maiores proporções devido às mudanças climáticas, assim como às mudanças no uso da terra e nas práticas de gestão. E isso torna mais difícil até mesmo para a vida selvagem bem adaptada lidar com a situação e desempenhar suas funções no ecossistema.
Embora as pesquisas sugiram que a mortalidade geral durante a fase ativa de um incêndio florestal seja relativamente baixa, os incêndios florestais cada vez mais implacáveis e de grande escala podem afetar a vida selvagem de várias maneiras.
Enquanto o incêndio está em andamento, ele queima plantas, fere e mata alguns animais diretamente e desaloja espécies que podem se mover rapidamente. O International Fund for Animal Welfare (IFAW), uma organização americana sem fins lucrativos, está apoiando projetos de reabilitação em campo, na Califórnia, para proteger animais de estimação e criaturas selvagens. Eles fornecem alimentos, cuidados médicos imediatos e providenciam suporte de longo prazo, se necessário.
Assim como em incêndios florestais de menor dimensão, os maiores impactos acontecem após o fogo ter apagado, devido à perda de alimentos, água e abrigo. Além da falta destes recursos essenciais, os animais podem ser forçados a sair das áreas selvagens, em direção às zonas urbanas, diz Kelly Johnston, oficial do programa de resposta a desastres do IFAW, aumentando o risco de conflito com os seres humanos.
Um estudo realizado por Jones e sua colega Jessalyn Ayars mostrou que os megaincêndios na Califórnia de 2020 e 2021 afetaram o habitat de mais de 500 espécies de vertebrados.
A salamandra Ambystoma macrodactylum levou a pior, com incêndios de alta intensidade em 14% da sua área de distribuição. Surpreendentemente, outras pesquisas mostraram que, embora possa sobreviver ao incêndio inicial, esta espécie tende a enfrentar dificuldades no ambiente pós-incêndio, e a sofrer declínio nas duas décadas seguintes.
Na Austrália, muitas espécies dependem das tocas feitas pelos vombates para alimentação e abrigo após um incêndio florestal
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Não são apenas os vertebrados que são afetados. Os polinizadores em florestas de terras altas parecem não tolerar incêndios graves tão bem quanto os moderados.
A fumaça dos incêndios florestais é outro problema preocupante, diz Tingley, embora seu impacto total sobre a vida selvagem ainda seja pouco conhecido. O estudo científico comunitário Project Phoenix está atualmente tentando descobrir como ela afeta os pássaros na Califórnia, no Oregon e em Washington.
Embora as plantas e os animais possam se recuperar de choques, isso se torna mais difícil à medida que os incêndios aumentam, e o intervalo entre eles diminui. E as mudanças climáticas estão alimentando esses tipos de eventos extremos. Na sequência dos incêndios florestais de 2025 na Califórnia, pesquisadores da UCLA escreveram um artigo.
Embora ainda não tenha sido revisado por pares, ele sugere que as mudanças climáticas podem ter contribuído para um quarto do “déficit extremo de umidade do combustível” quando os incêndios começaram. Isso significa que a vegetação estava mais seca e mais propensa a queimar. O grupo World Weather Attribution, que analisa observações meteorológicas e modelos climáticos para estimar a influência que as mudanças climáticas estão exercendo sobre as condições meteorológicas extremas, também concluiu que o aquecimento global tornou as condições climáticas quentes e secas, responsáveis pelos incêndios florestais de Los Angeles, cerca de 35% mais prováveis.
O aquecimento do planeta é apenas um dos muitos fatores interconectados que estão por trás das mudanças nos padrões dos incêndios florestais. Outros fatores de estresse, como o movimento de espécies invasoras, limitam a resiliência das florestas a esses tipos de distúrbios. Mas a propagação de espécies invasoras, por sua vez, é exacerbada pelas mudanças climáticas.
As gramíneas invasoras, em particular, estão tornando os incêndios mais comuns e destrutivos, diz Tingley. Ele observa que o incêndio de 2020 no Arizona se espalhou pelo Deserto de Sonora devido à onipresença do capim invasivo Cenchrus ciliaris.
“Isso resultou em uma perda catastrófica de cactos saguaro maduros que normalmente não sofrem incêndios graves”, diz Tingley.
Outro fator importante são as práticas de manejo florestal.
Os pica-paus-de-dorso-preto são especialistas em sobreviver em paisagens queimadas, onde fazem ninhos em árvores e procuram alimento
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As florestas comerciais em escala industrial resultam em árvores uniformemente espaçadas de idades e espécies semelhantes, o que facilita a propagação do fogo, enquanto as florestas naturais são mais resilientes.
O fogo também foi suprimido em muitas partes dos EUA para proteger casas e infraestruturas humanas, e as práticas indígenas de fogo controlado foram abandonadas, levando a um acúmulo de material inflamável. “Os incêndios foram removidos intencionalmente do sistema, e isso gerou um modelo bastante alterado para o que acontece quando o fogo começa”, diz Jones. “É mais extremo do que pode ter sido historicamente.”
Ainda há muito mais para aprender sobre a complexa interação entre os animais e o fogo. Mas o declínio da biodiversidade na Califórnia — e ainda mais ao redor do mundo — pode ser um fator adicional que exacerba os incêndios florestais se espécies importantes forem perdidas.
Embora algumas espécies possam se adaptar à natureza mutável do fogo, os especialistas reconhecem que ainda não sabemos todos os impactos de longo prazo das recentes conflagrações sobre a vida selvagem. Mas sabemos que os ecossistemas levam mais tempo para se recuperar de incêndios graves, especialmente em um clima em transformação.
É provável que as mudanças nos padrões de incêndio durante os períodos pré-históricos de aquecimento e seca global tenham levado os animais à extinção. O Serviço de Pesca e Vida Selvagem dos EUA já listou um pequeno mamífero parecido com uma lontra, conhecido como pescador de Sierra Nevada, e a raposa vermelha de Sierra Nevada como espécies ameaçadas de extinção, em parte devido à ameaça de incêndios florestais de alta intensidade que destroem seu habitat e desmantelam os corredores de vida selvagem pelos quais eles podem se mover com segurança.
Tingley diz que as mudanças climáticas estão alterando rapidamente a natureza do fogo, mesmo em ecossistemas que evoluíram com ele. “Especialista em sobreviver após um incêndio”, o pica-pau-de-dorso-preto, por exemplo, está tendo dificuldades para se reproduzir com sucesso, porque os incêndios em larga escala não o deixam com o mosaico ideal de terra queimada ao lado de bosques verdes não queimados, diz ele.
Isso não é ruim apenas para o pica-pau-de-dorso-preto, mas para todas as espécies que dependem dele.
Existe até mesmo o risco de mudanças fundamentais em um ecossistema — de floresta para vegetação arbustiva ou pastagem. Isso já pode estar acontecendo com o chaparral no sul da Califórnia, com possíveis “impactos de longo alcance” na biodiversidade e nos serviços ecológicos essenciais para a saúde humana e a sociedade, como o abastecimento de água, o controle da erosão e o sequestro de carbono. Uma mudança tão significativa na vegetação poderia, por sua vez, aumentar a inflamabilidade da paisagem.
Engenheiros naturais e ‘bunkers’ artificiais
Uma abordagem para que os seres humanos coexistam com o fogo em um clima em transformação é, portanto, tentar manter ecossistemas saudáveis e diversificados. Mas como isso deve ser feito depende do habitat específico e da parte do mundo em que ele se encontra.
Em alguns lugares, isso pode significar a “restauração natural” por meio da reintrodução de grandes herbívoros, o que, segundo um estudo, “oferece uma ferramenta poderosa para gerenciar os riscos de incêndios florestais e seus impactos sobre os valores naturais e humanos”. O pastoreio direcionado já está sendo testado em pastagens no Oregon com algum sucesso.
Outro artigo sugere que a reintrodução de engenheiros do ecossistema, como os marsupiais Myrmecobius fasciatus e Onychogalea fraenata na Austrália, ajudou a diminuir o tamanho e a propagação dos incêndios. “Esse resultado tem implicações importantes para o comportamento e o gerenciamento de incêndios a nível global”, conclui o artigo, mostrando a “necessidade de restaurar todo o conjunto da biodiversidade”.
Na Austrália, vários estudos analisaram o potencial dos refúgios artificiais de vida selvagem para lidar com uma ameaça específica: predadores mamíferos invasores, como gatos selvagens e raposas vermelhas europeias, que atacam criaturas nativas após um incêndio.
Para testar sua ideia, uma equipe de pesquisadores australianos construiu “bunkers” artificiais em três habitats diferentes — temperado, árido e mediterrâneo —, localizados em Otway e na Ilha Kangaroo, no sudeste do país, e no Deserto de Simpson, na Austrália Central. Os abrigos eram feitos de tela de arame e cobertos com tecido, e contavam com armadilhas fotográficas com sensores remotos dentro e fora deles. Eles foram colocados após uma série de incêndios florestais entre 2015 e 2020.
Árvores como a sequoia dependem do calor intenso para liberar as sementes das suas pinhas e se reproduzir
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Embora os refúgios tenham sido usados por pequenos pássaros e répteis, eles não parecem ter ajudado na abundância ou na diversidade geral de pequenos animais.
Darcy Watchorn, acadêmico visitante do departamento de Vida e Ciências Ambientais da Universidade Deakin, na Austrália, e biólogo de espécies ameaçadas do Zoos Victoria, que liderou esta pesquisa, ainda está interessado nesta abordagem. Mas ele adverte que as intervenções artificiais podem se transformar em uma “armadilha ecológica”, atraindo potencialmente animais para serem queimados, e arriscando priorizar algumas espécies em detrimento de outras.
Além disso, há um “custo de oportunidade de investir tempo e recursos em estratégias que são promissoras, mas que ainda não possuem evidências suficientes”, acrescenta Watchorn.
Foster diz que é “altamente improvável” que os engenheiros do ecossistema sejam uma solução milagrosa para o gerenciamento de incêndios. “Eu teria cautela, especialmente devido às terríveis perdas sofridas recentemente na Califórnia… porque o papel dos animais no gerenciamento do combustível e na inflamabilidade da paisagem é bastante matizado, e faltam pesquisas sobre a magnitude dos efeitos na maioria dos sistemas.
Para Tingley, a melhor solução atual para combater o impacto dos incêndios florestais no oeste dos EUA é aumentar enormemente a escala de queimadas programadas, retomando uma relação mais próxima com a terra, como a que os povos indígenas têm há milhares de anos.
“Um grande problema neste momento é que muitas das nossas florestas não são queimadas há 100 anos ou mais. Quando combinado com o manejo florestal de idade uniforme, a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas, o resultado é o tipo de catástrofe provocada pelo incêndio que levou à destruição de Paradise [em 2018]”, diz Tingley.
“Se trouxermos o fogo de volta a essas paisagens de forma controlada e gerenciada, a biodiversidade será restaurada.”
Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
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