
Aaron Brian Gunches, de 53 anos, é o segundo de quatro condenados à morte que devem ter suas penas aplicadas nesta semana no país. O primeiro foi Jessie Hoffman, morto por asfixia por nitrogênio, método considerado pela ONU como tortura. Foto de Aaron Brian Gunches no corredor da morte
Arizona Department of Corrections, Rehabilitation and Reentry via AP
Um homem do Arizona que sequestrou e assassinou o ex-marido de sua namorada foi executado nesta quarta-feira (19). Ele é o segundo dos quatro condenados à morte que devem ter suas penas aplicadas nos Estados Unidos.
Aaron Brian Gunches, de 53 anos, recebeu uma injeção letal de pentobarbital no Complexo Prisional Estadual do Arizona, na cidade de Florence, informou John Barcello, vice-diretor do Departamento de Correções, Reabilitação e Reintegração do estado, à imprensa. Ele foi declarado morto às 10h33 no horário local (14h33 em Brasília).
Gunches Ted Prince matou a tiros no deserto, nos arredores do subúrbio de Mesa, em Phoenix, em 2002. Ele se declarou culpado de homicídio qualificado em 2007.
O prisioneiro não teve palavras finais, disse Barcello. Ele respirou pesadamente algumas vezes e emitiu um som semelhante a um ronco.
“Por todos os relatos, o processo ocorreu conforme o planejado, sem qualquer incidente”, afirmou Barcello.
A execução de Gunches estava originalmente programada para abril de 2023, mas foi suspensa depois que a governadora democrata Katie Hobbs ordenou uma revisão dos procedimentos de pena de morte do estado. No final do ano passado, Hobbs demitiu o juiz aposentado que havia nomeado para conduzir a revisão, e o Departamento Correcional do estado anunciou mudanças na equipe responsável pelas injeções letais dadas aos prisioneiros do corredor da morte.
A execução de Gunches foi realizada por meio da inserção de acessos intravenais em seus braços, de acordo com representantes da mídia que testemunharam o procedimento. Nas duas execuções anteriores no estado, o acesso havia sido inserido na artéria femoral do prisioneiro.
“Provavelmente esta foi a execução mais tranquila que já vi, e acho que parte disso se deve à determinação da pessoa executada”, disse o jornalista Michael Kiefer, do jornal “Arizona Mirror”, que já presenciou duas execuções e cobriu outras nove. Ele relatou que Gunches foi declarado morto 17 minutos após a administração da injeção.
Troy Hayden, da 12News KPNX, disse que não viu sinais de dor no rosto de Gunches. “Não houve contração facial ou algo do tipo”, afirmou.
Asfixia por nitrogênio
Gunches é a segunda pessoa executada esta semana nos Estados Unidos. A Louisiana executou Jessie Hoffman Jr. na terça-feira, um homem de 46 anos, por asfixia com o uso de nitrogênio. O método é considerado tortura pela ONU.
Hoffman foi condenado por assaltar, estuprar e matar Mary “Molly” Elliott, uma executiva de publicidade de 28 anos, em 1996.
Outras duas execuções estão programadas para quinta, na Flórida e em Oklahoma.
O Arizona é o primeiro estado com um governador democrata a realizar uma execução desde 2017, quando a Virgínia o fez sob o então governador Terry McAuliffe.
“A família de Ted Price esperou por justiça por mais de duas décadas”, disse a procuradora-geral do Arizona, Kris Maye, em uma coletiva de imprensa após a execução de quarta-feira. “Eles merecem esse desfecho.”
O processo
Karen Price descreveu seu irmão como uma pessoa gentil e amorosa, que gostava de assistir aos jogos do Phoenix Suns, da NBA, e do Arizona Diamondbacks, de beisebol, e de andar de moto. Ela disse que sua família ficou devastada com a morte de Ted.
“Eu gosto de imaginar que estaríamos ambos aproveitando nossa aposentadoria e talvez planejando uma viagem juntos, em vez de eu estar aqui para testemunhar a execução do homem que tirou sua vida”, disse Karen Price na quarta-feira.
Ela acrescentou que o termo “desfecho” não reflete a realidade da situação de sua família. “Embora tenhamos dado o passo final no processo legal, a dor de perder Ted continua profunda e não pode ser expressa em palavras. É um alívio não precisarmos mais lidar com advogados, examinar documentos, verificar registros prisionais ou nos comunicar com defensores de vítimas ou jornalistas”, afirmou.
A filha de Ted Price, Brittney Price, disse em um comunicado distribuído à imprensa que “a dor de reviver as circunstâncias que envolveram a morte de meu pai por mais de duas décadas causou um impacto significativo em minha família e em mim”.
“Hoje marca o fim desse capítulo doloroso, e eu não poderia estar mais grata”, disse ela.
O assassinato
As autoridades afirmam que a ex-esposa de Price o atingiu no rosto com um telefone durante uma discussão no final de 2002, em seu apartamento, deixando-o consciente, mas atordoado. A irmã de Price, Karen, disse que seu irmão havia ameaçado denunciá-la às autoridades de proteção infantil por usar drogas na frente dos filhos.
Gunches chegou ao apartamento mais tarde. Ele pediu a duas outras mulheres que estavam lá com sua namorada que colocassem Price em um carro e o levassem até uma rodoviária. No entanto, ao perceberem que não tinham dinheiro suficiente para uma passagem, decidiram levá-lo para o deserto, onde Gunches atirou em Price, segundo as autoridades.
Gunches foi preso em janeiro de 2003, após ser parado por um policial rodoviário do Departamento de Segurança Pública do Arizona, perto da divisa com a Califórnia. Gunches atirou contra o policial, que foi salvo por um colete à prova de balas. Os cartuchos das balas disparadas naquele episódio correspondiam às munições encontradas perto do corpo de Price, e Gunches foi acusado de homicídio qualificado e sequestro em outubro de 2003.
Gunches pediu para acelerar execução
Gunches, que se representava sozinho, apesar de não ser advogado, pediu à Suprema Corte do Arizona, em 2022, que emitisse um mandado de execução contra ele para proporcionar um desfecho à família de Price. Posteriormente, ele retirou o pedido. A execução foi marcada mesmo assim, mas acabou adiada devido à revisão ordenada por Hobbs.
No final de dezembro, Gunches pediu à mais alta corte do estado que ignorasse formalidades legais e agendasse sua execução o mais rápido possível, afirmando que sua sentença de morte estava “atrasada há muito tempo”. O tribunal recusou o pedido e, posteriormente, definiu a data de execução para a quarta-feira.
Não houve nenhum indulto de última hora para Gunches, apesar das objeções de advogados que não o representavam, mas que pediram à Suprema Corte do Arizona que não autorizasse sua execução. Os advogados argumentaram que a injeção de grandes quantidades de pentobarbital pode causar acúmulo de líquidos nos pulmões, levando a pessoa a se afogar nos próprios fluidos.
O tribunal rejeitou o pedido, afirmando que não era apropriado usar o caso de Gunches para discutir os méritos da injeção letal. Também determinou que todos os requisitos necessários para a execução haviam sido cumpridos.