
Futuramente, ave poderá integrar projeto de soltura da espécie na caatinga baiana. Bióloga responsável comenta sobre reprodução em cativeiro e papel da unidade para conservação do animal. Vídeo mostra momento em que filhote de arara-azul-de-lear deixa ovo
A Fundação Parque Zoológico de São Paulo (Zoo SP) registrou o nascimento de uma arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari) no último sábado (16). No vídeo feito por funcionários do local, é possível ver o momento em que o filhote deixa o ovo.
A ave é endêmica da caatinga baiana e está classificada como Em Perigo (EN) de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Nascido em cativeiro, filhote de arara-azul-de-lear deixou o ovo no sábado (16)
Zoológico de São Paulo
De acordo com o zoológico, o filhote é fruto do casal Maria Clara e Francisco. As duas araras chegaram ao local em 2004 e 2006, respectivamente, após apreensão por tráfico de animais feita pela Polícia Federal e pelo Ibama.
Fernanda Guida, bióloga responsável pelo setor de aves do zoológico, explica que o recebimento de animais é feito conforme as recomendações do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
“Não é a primeira vez que eles reproduzem, o primeiro filhote nascido sob cuidados humanos no Brasil foi o Teobaldo, em abril de 2015, e depois disso, hoje no total, nós temos 19 filhotes que esse casal reproduziu”, afirma a bióloga.
Além do filhote nascido no sábado (16), houve um novo nascimento nesta quarta-feira (20), o que totalizou 19 aves. Dessas, cinco foram encaminhadas para um programa de revigoramento e soltura na Área de Proteção Ambiental (APA) do Boqueirão da Onça, na Bahia, feito pelo Grupo de Pesquisa e Conservação da Arara-azul-de-lear.
Pais do novo filhote, Maria Clara e Francisco chegaram após apreensão por órgãos de fiscalização ambiental
Zoológico de São Paulo
Programa de soltura
Ainda segundo comunicado do zoo, após avaliação técnica, esse e outros filhotes em cativeiro poderão integrar um projeto de soltura feito pelo Grupo de Pesquisa e Conservação da Arara-azul-de-lear, que desenvolve trabalhos de longo prazo na Caatinga aplicados à conservação da espécie.
Os que não foram enviados ao programa passam a integrar o programa de manejo genético demográfico da população para reprodução. Assim, alguns continuam no local, outros são encaminhados para formar novos casais em outras instituições.
“Trabalhamos como se fosse uma única população, indiferente se ela está aqui, se está em um zoológico de BH, a gente trabalha assim para formar o maior número de casais se reproduzindo”, diz.
Arara-azul-de-lear utiliza cavidades em paredões
Ciro Albano/Fundação Biodiversitas
De acordo com Fernanda, o Zoo SP é mantenedor da espécie desde 1986 e, assim como outros locais que trabalham com populações ameaçadas, há a manutenção de uma população backup de araras-azuis-de-lear.
“A gente precisa ter essa população segura para poder manter uma reprodução ao longo dos anos, já que não sabemos como a espécie vai estar em nível de ameaça daqui a 10, 20, 30 anos”, acrescenta.
Com o sucesso reprodutivo da espécie em cativeiro, além de manter o backup, foi possível também enviar filhotes para outras unidades. A expectativa é que, nesta semana, novos indivíduos sejam introduzidos na Boqueirão da Onça, sendo três provenientes do zoológico.
Até o ano de 2019, segundo o zoo, restavam apenas dois indivíduos da espécie. A dupla é sobrevivente da população original da localidade que quase foi extinta na década de 1990, principalmente devido ao tráfico de animais silvestres.
Em fevereiro, duas ucranianas foram presas em Governador Valadares (MG) por tráfico de ovos de araras-azuis-de-lear, sendo que uma delas já tinha passagem pelo mesmo crime. De acordo com a PF, eles saíram da APA Boqueirão da Onça e seriam levados para Europa.
Ovos estavam na parte traseira do veículo
Polícia Federal/Divulgação
Dificuldades
Dentre as dificuldades da reprodução em cativeiro, Fernanda cita a falta de compatibilidade entre casais da espécie como a mais desafiadora. “Dentro do programa que é internacional, são poucos casais que estão reproduzindo, são só cinco no mundo”, relata.
Arara-azul-de-lear chega a medir 75 centímetros de comprimento
Sergio Gregorio
“Você pode manter uma ave pareada, ou seja, uma fêmea e um macho juntos por muitos anos, só que eles podem não ter essa empatia, essa afinidade entre eles. Em outros casos, eles não gostam do recinto ou do tipo de ninho fornecido, e isso tudo dificulta a reprodução”.
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Por esse motivo, as instituições de conservação e pesquisa fazem trocas entre os casais, exames veterinários e comportamentais para tentar evitar a “falta de química”.
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